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Abstract(s)
As espécies da família Sparidae ocupam um lugar de destaque na actividade pesqueira da Costa
Sudoeste de Portugal, sendo das principais subsidiárias da pesca artesanal nesta região. Com o
presente trabalho pretendeu-se clarificar aspectos básicos da biologia de dois esparídeos,
Diplodus vulgaris (safia) e Spondyliosoma cantharus (choupa), nas áreas da ecologia alimentar,
reprodução, idade, crescimento e mortalidade; estimar os parâmetros de selectividade das artes de
pesca mais importantes sobre estas espécies e avaliar preliminarmente o estado da pescaria
destes dois esparídeos. Para atingir estes objectivos cumpriu-se um plano de amostragem de
frequências de comprimento nas lotas de Sagres e Sines, de Julho de 1992 a Março de 1994;
estudos laboratoriais com amostras recolhidas em Sagres de Dezembro de 1992 a Março de 1994
e um estudo de selectividade de aparelho de anzol e redes de emalhar realizado em 1997/98.
Os hábitos alimentares foram estudados a partir da análise de conteúdos estomacais, utilizando-se
3 métodos de avaliação da composição da dieta, 5 índices combinados da bibliografia e 3
propostos. Da análise comparativa entre os vários índices concluiu-se que o índice de importância
relativa (IRI) e o índice de alimentação ponderado (IPO2) serão os mais adequados para descrever
as dietas destas espécies. Registaram-se elevados coeficientes de vacuidade, motivados em
grande parte pela natureza da arte de pesca. A dieta de D. vulgaris é composta essencialmente
por ofiurídeos, poliquetas, anfípodes e equinóides, enquanto que S. cantharus consome
principalmente poliquetas, anfípodes e hidrozoários. As duas dietas são significativamente
diferentes, principalmente pelo maior consumo de equinodermes no caso de D. vulgaris. A
estrutura e dimensões da boca nestes esparídeos são distintas, podendo influenciar o seu
comportamento trófico. À semelhança de grande parte dos esparídeos, D. vulgaris e S. cantharus
são espécies bentívoras, que adoptam uma estratégia alimentar generalista, com fortes afinidades
com o alimento disponível no meio.
Da análise do ciclo reprodutivo verificou-se que as épocas de postura são extensas: D. vulgaris:
Dezembro a Março com maior intensidade em Janeiro/Fevereiro; S. cantharus: Fevereiro a Abril,
com máxima intensidade em Março. Não existiram diferenças significativas na proporção entre os
sexos (M:F = 1.01) ao longo do ano e por tamanho em D. vulgaris, enquanto que em S. cantharus
as fêmeas foram mais abundantes ao longo do ano (M:F=0.57) e nas classes de comprimento
inferiores. Os tamanhos de 1ª maturação (L50%) para o conjunto dos sexos e indivíduos
indeterminados foram de: D. vulgaris, 18.33 cm, não existindo diferenças significativas entre
machos e fêmeas; S. cantharus, 20.10 cm, existindo diferenças significativas entre machos (22.41
cm, TL) e fêmeas (19.98 cm, TL). Os tamanhos de 1ª maturação estimados foram
consideravelmente superiores aos tamanhos mínimo legais de desembarque (TML) em Portugal,
para D. vulgaris (TML=15.0 cm) e ligeiramente inferiores no caso de S. cantharus (TML=23 cm). A
fecundidade média absoluta (Fa) e a fecundidade relativa (Fr) foram de: D. vulgaris - Fa = 131127
ovos; Fr = 526 ovos/g; S. cantharus - Fa = 61396 ovos; Fr = 346 ovos/g. As relações entre a
fecundidade absoluta e o comprimento total (TL) e o peso somático (SW) foram as seguintes: D.
vulgaris: Fa = 0.1853TL4.1903; Fa = 57.715SW1.4067; S. cantharus: Fa = 436.27TL1.5747; Fa =
2979.7SW0.585. A estratégia reprodutiva destas espécies é caracterizada por hermafroditismo,
rudimentar com eventual protândria parcial em D. vulgaris e protogínia em S. cantharus.
A determinação da idade foi efectuada pela análise de estruturas duras, otólitos para D. vulgaris e
otólitos e escamas para S. cantharus. As estimações do comprimento à idade ajustaram-se bem
ao modelo de Von Bertalanffy. De entre os métodos de estimação dos parâmetros de crescimento,
escolheu-se o ajuste não linear aplicado a todos os pares de comprimentos à idade, sendo esta
corrigida pela data de captura. Para além do maior rigor desta análise, os resultados produzidos
foram considerados os mais aproximados da realidade: D. vulgaris (otólitos): L=28.1 cm K=0.30 ano-1 e t0= -1.618 anos (validade: 12.5-30.5 cm; 1-10 anos); S. cantharus (escamas): L=35 cm,
K=0.32 ano-1 e t0=-0.481 anos (validade: 14.3-33.5 cm; 1-9 anos). A análise de distribuição de
frequências de comprimento, apresentou um L mais próximo da realidade: L=39.6 cm, K=0.32
ano-1 e t0=-0.481 anos (D. vulgaris); L=40.0 cm, K=0.24 ano-1 e t0=-0.646 anos (S. cantharus). As
relações peso-comprimento de D. vulgaris e S. cantharus para a Costa Sudoeste foram do tipo
potencial W=a Lb, sendo definidas pelos seguintes parâmetros: a=0.0223 e b= 2.895, r2=0.89 (D.
vulgaris); a=0.0106 e b= 3.085, r2= 0.89 (S. cantharus).
Os valores de mortalidade natural (M), estimados por métodos indirectos, para D. vulgaris e S.
cantharus foram de 0.39 e 0.30 ano-1, respectivamente. O valor de M de esparídeos pode ser
estimado preliminarmente mediante a utilização de uma regressão multilinear que integra as três
variáveis (M, K e L): M = -0.162 + 1.714K + 0.00273L (r2=0.77). A análise das curvas de captura
permitiu obter os seguintes valores de mortalidade total (Z): D. vulgaris: Z=0.642 (otólitos) e 0.727
ano-1 (frequências de comprimento); S. cantharus: Z=0.676 (escamas) e 0.576 ano-1 (frequências
de comprimento).
As artes de pesca mais importantes para D vulgaris e S. cantharus e para a região considerada
são, por ordem de grandeza, o aparelho de anzol e redes de emalhar, e em menor escala a arte do
cerco. Os esparídeos diversos e dentro destes a choupa, que deveria ser discriminada nas
estatísticas oficiais, constituíram os únicos esparídeos que apresentaram uma evolução com
tendência negativa de 1987 a 1998. A estrutura demográfica de desembarques de safia é
caracterizada por cerca de 86.9 % indivíduos entre 20.5 a 27.5 cm (2 a 6 anos), enquanto que para
a choupa, 85.0% dos indivíduos desembarcados estão compreendidos entre 21.5 e 27.5 cm (2 a 6
anos).
No estudo de selectividade foram realizadas 40 pescas experimentais em que se testaram 4
tamanhos de anzol (nº11, 12, 13 e 15) e de malha (80, 70, 60 e 50mm). D. vulgaris e S. cantharus
são das espécies mais abundantes na pescaria com aparelho de anzol, tendo uma representação
inferior quer em termos relativos, quer absolutos nas capturas das redes de emalhar. Existiu um
decréscimo geral das taxas de captura com o tamanho do anzol e uma maior eficiência para os
tamanhos intermédios da malha nas redes de emalhar. Paralelamente, existiu para ambas as
espécies uma sobreposição de comprimentos médios com o tamanho dos anzóis e uma separação
clara de comprimentos médios de ambas as espécies com a malhagem. Adoptaram-se, com bom
ajuste, uma curva de selectividade do tipo logística para o aparelho de anzol e normal para as redes
de emalhar, para ambas as espécies. Atendendo a uma eventual revisão dos tamanhos mínimos
legais de desembarque, em função dos tamanhos de primeira maturação e à estrutura das
capturas, as malhas de 70 e 80mm são as mais adequadas na pescaria de D. vulgaris e S.
cantharus, respectivamente. O anzol número 13 será o mais apropriado a D. vulgaris, dada a pouca
praticabilidade do anzol 15. Em relação a S. cantharus o anzol nº 11 apresenta a menor proporção
de indivíduos com tamanho ilegal, sendo então o mais indicado à pescaria desta espécie.
Para o aparelho de anzol e de acordo com os modelos de rendimento por recruta a pescaria de
safia processa-se de forma moderada, a níveis inferiores a uma taxa de exploração máxima
(Emax) suportável pelo "stock". A pescaria de choupa apresenta indícios de uma exploração
intensa, próxima dos valores máximos comportados pelo "stock". Uma alteração nos valores
actuais da taxa de exploração e/ou de comprimento de 1ª captura terá de ter em consideração o
carácter multiespecifico desta pescaria. Visando a gestão destes recursos pesqueiros, dever-se-á
controlar principalmente o nível do esforço de pesca praticado e rever os tamanhos mínimos de
desembarque, de modo a evitar que esta pescaria entre numa fase de sobreexploração. O
estabelecimento de reservas marinhas e de recifes artificiais poderá ser um contributo para uma
exploração pesqueira sustentada e para a conservação da biodiversidade.
Description
Keywords
Sparidae Diplodus vulgaris Spondyliosoma cantharus Hábitos alimentares Reprodução Idade Crescimento Mortalidade Pescas Selectividade Aparelho de anzol Dieta mediterrânica