Faísca, LuísGuerreiro, Daniel Alexandre Martins2025-06-242025-06-242024-12-19http://hdl.handle.net/10400.1/27272A criatividade é uma das capacidades mais importantes e fundamentais da mente humana. A possibilidade de gerar novas ideias, mais abstratas e complexas, a partir de conceitos previamente aprendidos permitiu o desenvolvimento da humanidade como a conhecemos. No entanto, apesar da sua importância indiscutível, o campo de investigação sobre a criatividade continua a ser um dos mais teoricamente fragmentados e subdesenvolvidos dentro das Ciências Cognitivas. Essa fragmentação pode ser atribuída a três fatores: 1) a falta de uma definição capaz de abranger a diversidade de manifestações da criatividade; o termo é aplicado para definir um leque alargado de conceitos, tais como processos, características de personalidade e fatores ambientais que dão origem a produtos criativos, o que dificulta o emergir de uma teoria geral da criatividade; 2) práticas metodológicas fortemente dependentes do pensamento divergente para medir a criatividade; o conceito de pensamento divergente é insuficiente pare medir criatividade pois o pensamento divergente pode não ser criativo e, ao inverso, o pensamento convergente pode dar origem a resultados criativos; por outro lado, sendo o pensamento divergente um processo compósito, dependente de vários outros processos distribuídos, não pode servir como base para a compreensão do processo criativo; 3) a falta de definir um mecanismo cognitivo claro que possa explicar os aspetos transitórios e involuntários da criatividade; ao contrário de outras capacidades cognitivas, como a compreensão e produção linguística, a criatividade nem sempre é acedida voluntariamente, sendo as ideias criativas habitualmente descritas como surgindo espontaneamente. Todos esses problemas decorrem em grade parte da falta de um modelo conciso de como a criatividade é gerada. Por isso, propomos um novo modelo que define a criatividade como fenómeno emergente, produzido pela interação de dois mecanismos cognitivos bem compreendidos: a “difusão de ativações” (spreading activation) e o controlo inibitório. A difusão de ativações diz respeito às ativações que ocorrem aquando da ativação de um conceito na memória semântica, que, por sua vez, se difunde através da rede de conceitos associados, proporcionando informação contextual. É através desta difusão que se torna possível formar novas associações entre conceitos distantes, formando ideias originais. O controlo inibitório é um mecanismo exercido pelo córtex pré-frontal responsável da redução do alcance destas ativações. Esta inibição é necessária ao funcionamento cognitivo quotidiano, pois uma ativação extensa da rede de associações semânticas sempre que se ativasse um conceito na memória seria altamente ineficiente em termos gestão de recursos cognitivos. Assim, o controlo inibitório permite excluir os conceitos mais remotos da difusão desencadeada perante a ativação de determinado conceito, garantindo que apenas os conceitos mais próximos e pertinentes recebam a ativação. Este modelo possibilita a resolução dos principais problemas apontados na área da investigação da criatividade. Em primeiro lugar, apesar de se basear em dois processos simples, a complexa interação entre eles permite uma caracterização dinâmica e altamente flexível da criatividade, permitindo distinguir três tipos de criatividade, dependendo do nível em que cada um dos processos está mais envolvido: a) “criatividade analítica”, caracterizada por alto nível de envolvimento de processos inibitórios e um muito baixo envolvimento de difusão de ativações. Neste tipo de criatividade, ao invés de usar a difusão de ativações, possíveis associações são testadas sequencialmente, de forma a encontra uma solução válida; este tipo de processo é bastante ineficiente na geração de novas ideias; b) “criatividade associativa”, caracterizada por um alto nível difusão e baixo nível de inibição. Neste tipo de criatividade, na ausência de controlo executivo, as ativações estendem-se para além dos seus níveis normais aumentando o potencial para alcançarem conceitos distantes e, assim, formar associações originais; contudo, sem o auxílio do sistema de controlo que guie o processo, estas ativações podem tornar-se aleatórias e, como tal, também ineficientes; c) “criatividade inspiracional”, caracterizada pelo envolvimento ótimo de ambos os processos. Este tipo de criatividade dá-se quando um estímulo com um nível intermédio de originalidade é processado; o processamento desse estímulo original exige associar conceitos na memoria semântica, pelo que os mecanismos inibitórios têm de relaxar o seu impacto na difusão de ativações, mas mantendo outras áreas analíticas (como a memória de trabalho) a funcionar para guiarem o processo de interpretação. Assim, o processamento de estímulos criativos induz (“inspira”) um estado mental propenso à geração de ideias criativas. Com base neste modelo, delineámos um paradigma experimental para induzir criatividade recorrendo a frases metafóricas originais. Os participantes foram separados em dois grupos: no grupo experimental, era necessário selecionar entre duas frases (frase com sentido metafórico versus frase sem sentido) qual a que tinha significado; no grupo de controlo, os participantes tinham de fazer a mesma tarefa, mas agora era apresentada uma frase com sentido literal contraposta a uma frase sem sentido. Espera-se que a interpretação das frases metafóricas originais induza o estado mental associado à criatividade inspiracional, não observado no grupo de controlo. Os efeitos desta manipulação ativadora dos mecanismos de criatividade inoperacional foram medidos recorrendo a uma “tarefa de usos alternativos” aplicada aos dois grupos antes e depois da manipulação experimental. Para avaliar se a manipulação experimental afetava a rede semântica, recorreu-se a representações em rede da produção numa tarefa de fluência semântica (“nomes de animais durante um minuto”) realizada antes e depois da manipulação experimental. Os resultados mostraram um aumento da conectividade e flexibilidade na representação do domínio semântico “animais”, bem como uma maior pontuação na tarefa de usos alternativos no grupo experimental. Aparentemente, a interpretação de metáforas, ao requerer a desinibição da difusão semântica, permitiu uma maior fluência das ativações da rede semântica dos participantes do grupo experimental quando realizaram posteriormente as tarefas de fluência verbal e de usos alternativos. Pelo contrário, no grupo de controlo, a interpretação de frases literais não requereu essa desinibição da ativação, pelo que o desempenho ulterior na tarefa de usos alternativos não revelou maior criatividade e a produção na tarefa de fluência verbal não revelou alteração significativa na conectividade da rede semântica. Estes resultados suportam a hipótese de que o processo criativo é regulado por processos inibitórios top-down, que podem ser influenciados passivamente pelo tipo de informação que está a ser processada. Corroborámos também a adequação da metodologia das redes para o estudo da criatividade em contexto experimental.Creativity is one of the most important and fundamental abilities of the human mind, the ability to generate new and more abstract and complex ideas out of previously learned concepts is what allowed the development of humanity as we know it. However, despite this undisputed importance the field of creativity research remains one of the most underdeveloped, and theoretical fragmented fields within cognitive sciences. This fragmentation can be attributed to 3 factors: 1) the lack of a well-articulated definition able to encompass the diversity of creativity manifestations. 2) methodological practices heavily reliant on the use of divergent thinking to measure creativity. 3) the lack of a clear cognitive mechanism able to account for the transient and non-volitional aspects of creativity. All these problem steam from a lack of concise model as such we propose a new model that defines creativity an emergent phenomenon, produced out of the interaction of 2 cognitive mechanism: spreading activation and inhibitory control. We then present and test hypothesis based on this model. For this an experimental paradigm using novel metaphoric, nonsensical and literal sentences was employed, where individuals had to interpret and judge what sentence made more sense. The effects of this interpretation were measured using both an Alternative uses task and a Network Science approach to examine group-based semantic memory graphs. Networks were constructed from a semantic fluency task. The results showed an increase in the connectivity and flexibility in semantic memory and a larger score in the Alternative uses task associated with the interpretation of metaphors. These findings support the hypothesis that the creative process is regulated by top-down inhibitory processes and that these mechanisms can by passively influenced by the type of information being processed. Finally, we also corroborate the network science methodology applied to an experimental paradigm as a valid approach to the study of creativity.engCriatividadePensamento divergenteAtivaçãoControlo inibitórioAnálise de redesSemantic inhibitory model of creative cognitionmaster thesis203875559