Erzini, KarimTserpes, GeorgeGomes, Ana Rita Vieira de Carvalho2024-04-022024-04-022023-05-12http://hdl.handle.net/10400.1/20548This study focused on the diet and feeding habits of the invasive species Lagocephalus sceleratus off the coast of Crete (southeast Mediterranean). We found a low number of specimens with totally empty tracts. Its diet is composed of a wide range of organisms, but mainly fish and complemented by crustaceans and molluscs (mostly gastropods and cephalopods). Spatiotemporal differences were identified. Based on frequency of occurrence and weight contribution, there seems to be some variability in the general diet of L. sceleratus amongst season, region, fishery type, maturity stage and sex. The employment of generalised additive models suggested that depth at which the specimens were captured, season, region, total length and feeding intensity are significant predictors for the occurrence of its most frequent prey. Fish occurrence was more probable in autumn and summer and at circa 20-25 m deep. In contrast, that of crustaceans was higher in spring and winter and in mid-sized specimens and low at around 20-25 m deep whilst increasing until a maximum at 40 m. Non-cephalopod molluscs probability was highest in winter, in the Libyan Sea and increased from the minimum at 20-25 m to a maximum at 40 m as well. TL influenced the likelihood of algae and seagrass and cephalopod consumption, which increases as the fish grow. As for feeding intensity (FI), it shows a different effect on each group, but overall seems to have a positive effect on probability of occurrence.Espécies invasoras constituem atualmente uma das maiores ameaças para os meios marinhos, representando um risco significativo para a biodiversidade e tendo profundas consequências tanto a nível ecológico como económico. O mar Mediterrâneo é uma das regiões mais afetadas por espécies não-indígenas, sendo que estes impactos são exacerbados pelas mudanças climáticas, poluição e outras pressões antropogénicas. Com a construção do Canal Suez em 1869, desencadeou-se a dispersão de várias espécies do Mar Vermelho em direção ao Mediterrâneo, comumente designado como migração Lessepsiana, tornando-se esta a via mais importante para a entrada de biota invasora nestes ecossistemas. Entre os invasores Lessepsianos mais bem-sucedidos encontra-se a espécie Lagocephalus sceleratus, identificada no Mediterrâneo (Turquia) pela primeira vez em 2003. Na Grécia, o primeiro registo ocorreu apenas dois anos mais tarde, nas ilhas de Creta e Rodes. Este peixe rapidamente colonizou o resto desta bacia, trazendo consigo uma panóplia de efeitos nefastos. L. sceleratus afeta pradarias marinhas e os serviços que oferecem, e compete com carnívoros nativos. Esta espécie é também considerada uma enorme ameaça para a pesca artesanal, devido aos danos que causa tanto nas artes e utensílios de pesca como nas capturas, uma vez que se alimenta de presas capturadas em redes e palangres. A intensidade da sua predação pode contribuir para o declínio de populações nativas, particularmente de cefalópodes, o que potencialmente causa uma disrupção nos ecossistemas e adicionalmente afeta a indústria da pesca e o sector económico. Representa ainda um enorme risco à saúde e ao bem-estar dos seres humanos. Há relatos de ataques a banhistas e, além disso, esta espécie contém uma das toxinas marinhas mais potentes, a tetrodotoxina (TTX). A TTX é encontrada principalmente nas gónadas, fígado e trato gastrointestinal, mas também nos músculos e pele, o que se torna especialmente problemático quando o peixe é capturado e usado para alimentação humana. Apesar da interdição do consumo desta espécie por parte de vários governos, vários casos de intoxicação continuam a ocorrer, inclusive com desfechos fatais. O presente trabalho focou-se nos hábitos alimentares desta espécie nas zonas costeiras da ilha de Creta, Grécia (sudoeste mediterrânico). Um total de 236 espécimes foram obtidos através de pesca comercial e experimental de Junho de 2017 a Outubro de 2022. O comprimento total (TL, mm), peso total (TW, g) e peso eviscerado (EW, g) foram medidos, e o sexo e estado de maturidade foram determinados. Os tratos gastrointestinais foram dissecados e os seus conteúdos analisados. A importância relativa de cada tipo de item foi quantificada com base na frequência de ocorrência (FO, %) e contribuição média em peso (WC, %). Adicionalmente, Generalized Additive Models (GAMs) foram usados para testar o efeito de vários fatores na probabilidade de ocorrência das presas mais frequentes (peixe, crustáceos, cefalópodes e outros moluscos, ervas marinhas e algas). Apenas 14.4% dos tractos analisados estavam vazios, o que demonstra que esta espécie se encontra bem-alimentada na região estudada. A análise dos conteúdos mostrou que a dieta de L. sceleratus é maioritariamente piscívora e complementada por crustáceos e moluscos (em grande parte gastrópodes e cefalópodes). Adicionalmente, esta espécie alimenta-se de outros invertebrados, tais como equinodermes, e ainda de algas e ervas-marinhas. Contudo, há a possibilidade de que a presença destes últimos seja acidental e esteja relacionada com a sua alimentação bêntica, sendo que em 11.5% dos tractos partes de substrato (como areia e seixos) foram encontrados. Neste estudo foram encontradas diversas evidências de depredação. 18% dos tractos continham partes de equipamentos de pesca, designadamente linhas, anzóis e pedaços de redes, por vezes com partes de peixe emaranhadas. Tendo em conta a FO e contribuição em peso, parece haver na dieta de L. sceleratus variações sazonais, regionais e entre o sexo e maturidade dos indivíduos. Estação do ano, a profundidade a que os espécimes foram capturados, região, intensidade alimentar (FI), e TL foram identificados como fatores explicativos da ocorrência de diferentes presas. No entanto, as variabilidades explicadas por todos os GAMs foram relativamente pequenas. Os modelos sugeriram que o consumo de peixe é significativamente mais provável durante o verão e outono, mas a probabilidade de consumo de crustáceos é menor nestes meses, sendo maior durante a primavera e inverno, e o consumo de moluscos não-cefalópodes mais provável no inverno. A probabilidade de consumo deste grupo é também maior em peixes oriundos do sul de Creta, o que pode estar relacionado com a maior toxicidade nesta região. Relativamente à profundidade, há um pico na probabilidade de consumo de peixes dos 20 aos 25 m, seguido de um decréscimo a profundidades mais elevadas. Por outro lado, a probabilidade de consumo de crustáceos e moluscos parece ser mínima dos 20 aos 25 m, aumentando a maiores profundidades. Parece haver uma relação inversamente proporcional na probabilidade desta espécie consumir peixes e consumir crustáceos e moluscos, que poderá estar relacionada com a mobilidade destes grupos. TL influencia a probabilidade de consumo de algas, ervas marinhas e cefalópodes, que aumenta com peixes de maior tamanho, sendo máxima a cerca de 550 mm. Quanto a FI, mostra um efeito diferente em cada grupo de presas, mas no geral parece ter um efeito positivo nas probabilidades de ocorrência. As diferenças encontradas entre estações do ano, maturidade do peixe (relacionada com tamanho) e região geográfica estão potencialmente associadas a diferenças de habitat. Esta espécie altera o seu habitat consoante o seu estado de maturidade e, consequentemente, altura do ano. Mudanças morfológicas ontogénicas, flutuações sazonais na temperatura da água e o efeito do tipo de arte de pesca com que os espécimes foram obtidos poderão também desempenhar um papel. Em suma, os nossos resultados demonstram que esta espécie bem-adaptada é generalista e capaz de se alimentar de uma enorme variedade de itens, com a sua dieta a variar de região. Este invasor causa danos nas artes de pesca e alimenta-se de espécies já capturadas, muitas de elevado valor. Devido aos seus impactes, tomamos como importante que haja um estudo mais aprofundadas dos hábitos alimentares nas inúmeras populações estabelecidas no mar Mediterrâneo, e que este se foque na potencial relação entre a dieta dos espécimes e a concentração de TTX, e, se possível, recorra a métodos de análise genética para identificação das presas, de modo a obter resultados menos enviesados.engLagocephalus sceleratusMar mediterrâneoMigração lessepsianaHábitos alimentaresThe diet and the feeding habits of Lagocephalus sceleratus in the Eastern Mediterraneanmaster thesis203470010