Loading...
3 results
Search Results
Now showing 1 - 3 of 3
- Um olhar sociológico sobre a prova da crise e da austeridade junto dos mais velhosPublication . COELHO, PATRICIA; São José, José; Eduardo Martins, JoãoO combate à crise introduziu a austeridade em Portugal e na União Europeia. Este artigo conceptualiza a crise e a austeridade como uma “prova” e revela o modo como esta se manifestou na vida dos mais velhos. Pouco se sabe sobre esta problemática, inclusivamente no que concerne à realidade portuguesa. Através de uma abordagem biográfica/narrativa junto de uma amostra de 28 pessoas mais velhas (65 ou mais anos de idade), de nacionalidade portuguesa, residentes em Faro, concluiu-se que a “prova” se manifestou numa contradição entre a velhice realmente vivida e a velhice esperada/idealizada, cujos contornos variam em função dos perfis sociológicos.
- A construção social das práticas de apoio educativo aos alunos com "dificuldades de aprendizagem" numa escola primária portuguesa. O poder e o status na mediação do modo de organização do trabalho professoralPublication . Eduardo Martins, João; Grácio, SérgioO trabalho de investigação sociológica que apresentamos nesta dissertação de mestrado tem como objecto de estudo “A construção social das práticas de apoio educativo aos alunos com “dificuldades de aprendizagem” ”. O trabalho de apoio educativo foi perspectivado como um sistema de acção concreto em que os diferentes actores em análise, professores de apoio educativo, professores do ensino “regular” e alunos constituem um sistema de interdependências sociais do qual vai resultar o modo como o seu trabalho quotidiano vai ser construído. Privilegiámos uma abordagem de carácter mais qualitativo e optámos pela análise de um estudo de caso, problematizando a escola como organização complexa, dotada de autonomia relativa, onde o trabalho de apoio educativo é conceptualizado como um constructo social resultante das diversas interacções estratégicas postas em prática pelos actores, assim como das significações sociais que os mesmos dão às suas acções. Conceitos centrais na análise são o poder, as estratégias e as negociações dos actores, o domínio (ou não) das zonas de incerteza organizacionais, a escola como um lugar onde a micropolítica é uma constante. Como principais resultados da investigação destacamos: - Um dos principais resultados do estudo é que não são somente e primordialmente as “necessidades” educativas dos alunos e a percepção que as professoras têm das mesmas que são um aspecto essencial a partir do qual é estruturado o modo de organização do trabalho pedagógico e a divisão social do mesmo mas são acima de tudo as relações de poder e de status entre as duas categorias de professores que vão ser fulcrais no modo como o trabalho escolar vai ser construído. Nos casos em que o apoio é definido como sendo de primeira importância apoiar os alunos com “n.e.e” em primeiro lugar, são as professoras do ensino “regular” que sendo portadoras de um maior status social dentro das organizações escolares que “empurram” as docentes de apoio para o “cantinho” das salas de aula agindo estrategicamente numa postura mais ofensiva, de forma a não sofrerem interferência nos seus tradicionais espaços de trabalho, os quais sempre dominaram, numa relação social isolada e assimétrica com os “seus” alunos. Optando por uma estratégia mais defensiva as professoras de apoio educativo perdem o controlo das zonas de incerteza que lhes era fundamental dominar para que o seu trabalho fosse conforme ao que está estabelecido nas normas oficiais como sendo o comportamento esperado para o “bom” desempenho do seu papel social, que seria então “um apoio dirigido prioritariamente ao professor da turma, aos pais, à escola e só em último caso ao aluno”. - As principais estratégias postas em prática pelos actores para levarem a “bom termo” o seu trabalho conjunto de cooperação são assim as estratégias de evitamento do conflito, em que as professoras procuram chegar a acordos de trabalho “ajustando-se” umas às outras, criando interactivamente consensos sobre a “forma de fazer as coisas”. Existe desta forma uma valorização das “boas” relações de trabalho pelos actores, sendo isto essencial para ultrapassar potenciais conflitos nos seus quotidianos de trabalho diário. - Outra estratégia posta em prática pelas docentes consiste em procurar conquistar e preservar um mínimo de autonomia nos seus contextos de trabalho. Neste tipo de estratégia as diferentes categorias de actores procuram não interferir no trabalho das colegas, optando por trabalhar cada uma com os “seus” alunos. - Ainda uma outra estratégia detectada, consiste em economizar esforço, uma vez que com uma definição do trabalho de apoio como apoio primeiro ao docente do “regular” e fazendo uma divisão do trabalho escolar mais cooperativa centrada sobretudo no grupo-turma e não nos alunos com “n.e.e.”, haveria “naturalmente” uma intensificação do tempo de trabalho de que por exemplo a preparação e a programação conjunta das actividades certamente obrigaria. - Sobre uma outra dimensão do trabalho de apoio educativo, o apoio aos pais dos alunos rotulados com “dificuldades de aprendizagem”, também este aspecto considerado oficialmente de primeira prioridade pelas autoridades educativas, pudemos constatar que mais uma vez são as professoras que no quotidiano escolar redefinem através de entendimentos tácitos a divisão social do trabalho de apoio e que o apoio aos pais não é tido como prioritário pelas docentes de apoio. Esta é uma dimensão do papel social do professor de apoio educativo que não foi ainda incorporada por esta categoria de professores. - Quanto às perspectivas das professoras sobre as “dificuldades” escolares dos alunos, para as professoras do ensino “regular” surge a ideologia do “dom” e do “handicap-sóciocultural” como as principais razões justificativas deste facto social. As professoras de apoio educativo apresentam nas suas enunciações discursivas uma tonalidade mais “positiva” em relação às competências escolares deste tipo de clientes. Contudo, são as professoras “especializadas” e com maior experiência no ensino “especial” que detêm expectativas mais positivas sobre os mesmos. As docentes de apoio referem ainda que as docentes do ensino “regular” vêem muito os aspectos “negativos” destes alunos, enquanto que algumas delas dizem mesmo assumir uma postura de “defesa” dos mesmos uma vez que o seu papel “também é levar uma outra visão às outras professoras sobre este tipo de meninos”. - Os momentos iniciais do ano escolar, nos primeiros encontros sociais entre as diferentes categorias de professores podem ser de extrema importância para o futuro escolar dos alunos etiquetados com “dificuldades”. É durante os mesmos que é construído interactivamente o consenso sobre o valor escolar destes últimos e a definição das suas “dificuldades”. Novamente aqui é o professor da “turma” que já tendo “solidificado” perspectivas sobre estes alunos no ano anterior vai produzir uma “definição da situação” baseada numa imagem estereotipada dos mesmos e de suas famílias, definição esta a que o professor de apoio “adere”, facilitando o consenso. - Um dos “efeitos perversos” resultantes das diversas interacções e adaptações estratégicas postas em prática pelos actores é o do reforço da diferença e do estigma em relação aos alunos com “n.e.e.”. Sendo o apoio definido estrategicamente como “apoio prioritário aos alunos” o facto destes serem apoiados ao “fundo” das salas de aula, separadamente, pelas professoras de apoio, contribui para a acentuação da diferenciação espacial e simbólica deste tipo de clientes em relação aos clientes “normais”. Passa-se desta forma de uma segregação por “fora” a uma segregação por “dentro”, agora no interior das salas de aula, que só é provocada e acentuada quando as professoras de apoio educativo “entram” nas turmas duas vezes por semana para efectuar o seu trabalho.
- Quando a saúde ficou a perder ou a crise passou ao lado: um olhar sociológico sobre os efeitos da crise e da austeridade na saúde autopercebida dos mais velhosPublication . COELHO, PATRICIA; São José, José; Eduardo Martins, JoãoA crise económica de 2008 levou à austeridade em Portugal e na União Europeia. Este artigo apresenta os resultados parciais de uma investigação qualitativa, os quais dão conta dos efeitos da crise e da austeridade na saúde autopercebida dos mais velhos. A literatura é vasta, mas poucos são os estudos a incluir esta população e muito menos aqueles que dão voz às suas experiências. A partir de uma Abordagem Biográfica/Narrativa, entrevistou-se 28 indivíduos, entre os 69 e os 92 anos de idade, portugueses e residentes em Faro. Os resultados mostram dois padrões : i) a saúde perdeu com a crise e a austeridade e ii) a crise e a austeridade passaram ao lado da saúde. Estes resultados contribuem para conhecer os efeitos da crise e da austeridade na saúde autopercebida dos mais velhos e revelam a importância da interligação das suas vidas com as vidas dos seus familiares.