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Através do exame dos provérbios da língua nguema/bansoa (Oeste dos Camarões), este artigo tenta demonstrar que o machismo e a misoginia se mantêm na região.
Houve, é verdade, a vaga do feminismo radical dos anos 60 e 70 do séc. XX, que levou à a correcção de algumas das piores discriminações contra as mulheres e à conquista de certos direitos: as mulheres vão hoje à escola, jogam futebol, ocupam perto de metade dos lugares nas faculdades de Direito ou Medicina, cerca de ¼ das pequenas empresas é dirigido por mulheres, estas conduzem autocarros, dirigem bares, estão presentes no clero e nas forças armadas, antes bastiões dos homens. No entanto, o machismo e a misoginia perduram e manifestam-se, não só nos comportamentos e decisões, no desporto, no cinema, na política, etc., mas também —e sobretudo— na fala, no discurso quotidiano, que contribui para reforçar de maneira insidiosa e eficaz os estereótipos discriminatórios contra as mulheres.
Os provérbios do povo bansoa são uma boa prova desta realidade. Na verdade, mais do que qualquer outro facto, os provérbios prendem a mulher bansoa num discurso que a reconhece apenas enquanto sujeito doméstico, reprodutora, objecto de prazer, prostituta e pessoa submetida, e negam-lhe totalmente a inteligência e a capacidade de pensar, de agir pela sua própria cabeça. Trata-se dum discurso que se transmite de geração em geração, com todo o cuidado, porque justifica todos os arcaísmos e serve de base a todas as discriminações de que a mulher bansoa é vítima.