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Authors
Abstract(s)
Neste trabalho implementou-se uma metodologia de análise e
descrição do sistema constituído pela Lagoa da Vela e respectiva bacia
drenante, que integra ferramentas de análise espacial e temporal, cujo
desenvolvimento foi fundamentado na obtenção e compilação de dados.
Obtiveram-se modelos conceptuais, espaciais e matemáticos, que
apesar de funcionarem como ferramentas independentes, no seu todo,
resultam num modelo ecológico global do sistema constituído pelo
ecossistema lacustre e respectiva bacia drenante. Os modelos
conceptuais (i.e. estatísticos, ilustrações, diagramas causais e de
compartimentos) contribuiram para a compreensão geral dos processos
em análise e serviram de base à elaboração dos restantes modelos. O
modelo espacial 3D, um modelo matricial de interpolação, que simula o
relevo superficial, a superfície freática e a distribuição de nutrientes na
área envolvente da Lagoa da Vela, revelou-se muito útil na definição dos
limites da bacia de drenagem. O modelo espacial 2D é um Sistema de
Informação Geográfica (SIGVela), que possibilita a visualização de
cartografia temática digital, em plataforma comum, e análises e
pesquisas associadas a uma base de dados hidrológica e de qualidade
da água, também georeferenciada. Para além da cartografia actualizada,
contém cartografia histórica, que permitiu descrever a evolução desta
paisagem ao longo dos últimos cerca de 150 anos, e, assim, efectuar
uma análise retrospectiva da eutrofização das lagoas de Quiaios. O
modelo matemático da Lagoa da Vela é um modelo dinâmico,
determinístico, composto por três módulos ou sub-modelos:
o hidrológico, o de fitoplâncton e o de nutrientes. Simula o
comportamento anual de sete variáveis de estado, gerando valores
diários do volume de água armazenado na lagoa, da concentração
média de fósforo e azoto inorgânicos dissolvidos e da biomassa de
quatro grupos fitoplanctónicos - a população da cianobactéria
Microcystis aeruginosa, a população da diatomácea Cyclotella sp., a
comunidade de Clorofíceas e as restantes espécies, que formam um
grupo indiferenciado. O modelo é activado por um conjunto de variáveis
externas ou funções motrizes (como a precipitação e a evaporação, os
níveis freáticos, a temperatura e a radiação solar, os teores de N e P
dissolvidos nas afluências), que são introduzidas sob a forma de tabelas
de valores. Usaram-se os valores da série de dados correspondente ao
período de observação entre Outubro de 1993 e Setembro de 1994 (ano
hidrológico de 1993/94), para efectuar as corridas e calibração do
modelo. Tanto os sub-modelos como o modelo global de nutrientes
reproduzem bem a tendência geral de evolução das variáveis de estado
do sistema, e os valores observados e simulados são, quase sempre,
significativamente semelhantes, como é o caso das florescências de
M. aeruginosa e de Cyclotella sp..
Tendo sempre presente que um modelo é um instrumento que
auxilia o raciocínio e nunca um seu substituto, a aplicação destas
técnicas, como ferramentas de análise e síntese ecológica, revelou-se
adequada à descrição e compreensão das características e dinamismo
dos recursos hidrícos, na bacia drenante da Lagoa da Vela.
Demonstrou-se que a Lagoa da Vela é um pequeno lago que constutui
um afloramento do lençol freático. Situada nas areias muito permeáveis
da faixa litoral Ocidental da zona centro de Portugal, nesta bacia
drenante a recarga do aquífero freático é efectuada directamente por
infiltração da água da chuva no solo; este vai descarregando o excesso
de água na rede hidrográfica e directamente na depressão lacustre, que,
por sua vez, alimenta uma linha de água que corre, para Sudeste, em
direcção ao Rio Mondego. Recentes à escala geológica, as lagoas de
Quiaios deverão ter permanecido num baixo estado trófico, durante
séculos, dada a fraca expressão da ocupação humana nesta área, até ao
século XVIII. A pressão antropogénica sobre estes recursos ter-se-à
intensificado quando se generalizou a utilização de fertilizantes
químicos, a par com o crescimento da produção animal e o abandono
da prática da colheita de plantas aquáticas nas lagoas, a proliferação de
fossas sépticas e o incremento do uso recreativo das lagoas, a partir dos
meados do século XX. O seu efeito reflecte-se no elevado nível de
contaminação do aquífero freático e no avançado estado trófico, actual,
das lagoas de Quiaios. Na Lagoa da Vela, a ocorrência de florescências
estivais da cianobactéria Microcystis aeruginosa, entre outros, indica um
estado já dentro da eutrofia. Classificadas como biótopos Corine e
fazendo parte de uma extensa zona húmida, são recursos importantes
tanto do ponto de vista de conservação como humano. Como
ferramenta de apoio à análise e gestão da eutrofização, o modelo aqui
apresentado, indica-nos que o controlo da eutrofização neste tipo de
ecossistemas lacustres, sujeitos à pressão crescente das fontes difusas
de poluição, terá de passar pela reformulação drástica das políticas de
uso da terra, pela aplicação de códigos de boas práticas agrícolas, e pelo
controlo dos efluentes domésticos e animais. A ecotecnologia é referida
como uma técnica sustentada de gestão, com grande potencial no
controlo da poluição difusa. Complementar estas medidas de gestão
ambiental na bacia de drenagem, com o objectivo de reduzir as cargas
externas, com medidas destinadas a controlar as cargas internas (como
a colheita controlada de plantas aquáticas e a biomanipulação das
cadeias tróficas),
é apontado como o tipo de acções, que integradas num quadro geral de
gestão ambiental, poderão contribuir para a efectiva melhoria da
qualidade destes recursos naturais.
Description
Tese de dout., Ciências e Tecnologias do Ambiente (Modelação Ambiental), Univ. do Algarve, 1999
Keywords
Modelação ambiental Ecossistema lacustre Modelo dinâmico