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Advisor(s)
Abstract(s)
A administração de fármacos por via pulmonar tem sido abordada com elevado interesse,
conduzindo-se ao crescimento do desenvolvimento de sistemas de libertação específicos
para esta via. A sua reduzida atividade enzimática, a prevenção do metabolismo hepático, a
superfície elevada, o fino e permeável epitélio alveolar e a vasta rede vascular, tornam-na
elegível para a administração sistémica. Mas também, por permitir a elevada deposição de
fármaco em elevada concentração numa zona específica do pulmão, permitindo assim,
aumentar a sua ação terapêutica, reduzindo a dose total, efeitos adversos sistémicos e
efeito de primeira passagem. É largamente utilizada para a veiculação de fármacos para o
tratamento local de doenças respiratórias como a asma e fibrose cística, e atualmente
investigada para a veiculação de antibióticos para o tratamento de doenças infeciosas, como
a pneumonia ou a tuberculose.
A tuberculose apresenta ainda uma elevada prevalência e incidência a nível mundial, em
2012, estimou-se o aparecimento de 8.6 milhões de novos casos e 1.3 milhões de casos de
mortalidade. Sendo que uma das principais causas de morte é a baixa adesão a terapia oral
atual, e consequentemente a falha terapêutica desta. A administração de sistemas que
veiculem fármacos antituberculosos tem sido vista como uma abordagem terapêutica que
potencialmente será eficaz e segura. Os sistemas micropartículados produzidos, por
exemplo, por atomização, tem sido bastantes explorados, devido, a se poderem modular as
suas características, de modo, a que exibam características aerodinâmicas adequadas
(tamanho geométrico, densidade e forma) para alcançar a região alveolar.
A goma de alfarroba (LBG) é um polissacarídeo neutro, que é extraído a partir das sementes
de alfarroba, e tem sido largamente utilizado, em aplicações farmacêuticas, devido, a sua
baixa citotoxicidade, propriedade bioadesivas e gelificantes. Este polímero pertence a classe
dos galactomanamos, e é composto por unidades de mannose e galactose, num ratio
aproximadamente de 4/1. A sua estrutura molecular consiste numa ligação linear de
unidades (1-4)--mannose com uma unidade de (1-6)-α-galactose. A obtenção de
micropartículas com esta estrutura, e com capacidade de atingirem a região alveolar,
permite proporcionar o direcionamento destes sistemas para os macrófagos alveolares,
onde reside o agente infecioso, Mycobacterium tuberculosis, e permitirem que haja a
libertação intracelular dos fármacos veiculados. Este direcionamento deve-se ao facto de os
macrófagos alveolares infetados expressarem o receptor da mannose, que ao reconhecer
estruturas com mannose, irá conduzir a sua fagocitose, de um modo, mais específico e
rápido, comparativamente com sistemas que não tenham esta estrutura. Neste contexto, este trabalho propõe o desenvolvimento de sistemas microparticulados,
utilizando a goma de alfarroba, para a produção de micropartículas através da técnica de
atomização. Pretende-se que este polímero veicule dois fármacos antituberculosos de
primeira linha, a isoniazida (INH) e a rifabutina (RFB). Os sistemas microparticulados obtidos
serão caracterizados em termos de propriedades aerodinâmicas, de eficácia de
encapsulação e capacidade de permitirem a libertação dos fármacos num ambiente alveolar
e do fagolisossoma. A sua biocompatibilidade será analisada em duas linhas celulares
representativas do epitélio alveolar (A549) e dos macrófagos alveolares (macrófagos
diferenciados a partir de THP-1). A capacidade de as partículas com uma matriz de LBG em
serem fagocitadas será avaliada na dose de 50 μg/cm2 em duas linhas celulares de
macrófagos, macrófagos diferenciados a partir de THP-1 e em macrófagos alveolares
provenientes de ratinho (NR8383). A capacidade destas micropartículas em ativarem
macrófagos será também avaliada nos macrófagos diferenciados a partir de THP-1.
A utilização da goma de alfarroba neste contexto nunca fora descrita anteriormente. Pelo
que torna as quatro formulações desenvolvidas com diferentes ratios de fármacos, uma
nova abordagem/proposta para a terapêutica de tuberculose, ou a sua potencial adaptação
para outra doença infeciosa do trato inferior respiratório. Deste modo as formulações
desenvolvidas foram: partículas sem fármaco: Unloaded LBG e partículas com fármaco
(ratio polímero:fármaco), LBG.INH 10:1, LBG.RFB 10:0.2, 10:0.5, 10:1 e LBG.INH.RFB
10:1:0.5 e 10:1:1.
Apesar de a goma de alfarroba formar dispersões viscosas, devido a não solubilizar por
completo, foi necessário a adição de ácido clorídrico (HCl) 0.1 M, para que fosse possível a
sua atomização. Permitindo-se assim obter com um rendimento satisfatório (entre 58 a
71%), micropartículas com tamanho adequado para a administração alveolar (entre 1.26 a
1.50 μm). Para além do tamanho adequado, apresentam também valores de densidade real
(aproximadamente 1.45 g/cm3) e de diâmetro aerodinâmico (entre 1.27 a 1.90 μm), que
indicam a sua capacidade de atingirem a zona alveolar.
Apesar de a INH ser um fármaco hidrofílico e a RFB ser um fármaco hidrofóbico, foi possível
a sua encapsulação na matriz hidrofílica da LBG, com valores elevados de eficácia de
encapsulação (> 82%). Outra justificação para a adição de HCl na formulação, foi a
necessidade, de na molécula de RFB, haver um processo de desprotonação, que permitisse
a sua solubilização em meio aquoso. O perfil de libertação de INH e RFB foi analisado a
partir da formulação LBG.INH.RFB 10:1:0.5, verificando-se a libertação de ambos os
fármacos num perfil semelhante em meio com pH 7.4, representativo da região alveolar. O
perfil de libertação de INH a partir da formulação de LBG.INH foi avaliado, em dois meios, o
representativo da região alveolar, e um representativo do fagolissosoma dos macrófagos, pH 5, estrutura formada após a fagocitose da micropartícula, e onde se irá libertar o
fármaco. Em ambos os meios se obteve um perfil de libertação rápido de INH.
A biocompatibilidade dos fármacos, matéria-prima e sistemas micropartículados produzidos
foi avaliada em duas linhas celulares, uma representativa do epitélio alveolar (A549) e outra
representativa dos macrófagos alveolares (macrófagos diferenciados a partir de células
THP-1). E é feita através da avaliação da atividade metabólica (MTT) e da libertação da
enzima lactato desidrogenase (LDH). Os resultados obtidos nos dois testes foram
concordantes entre si, e verificou-se que nas concentrações testadas o fármaco RFB é
citotóxico, com um índice de concentração que inibe a proliferação/população celular em 50
% (IC50), nestas duas linhas celulares, idêntico aos ratios testados. Apenas formulações que
contêm RFB, se observa uma redução da viabilidade celular para estas duas linhas
celulares, abaixo, do limite aceitável para formulações farmacêuticas (70%). No polímero
observa-se alguma citotoxicidade nas células A549, que não está presente nas Unloaded
LBG. Diversas razões foram apresentadas para a explicação desta citotoxicidade da RFB,
sendo que por comparação com as Unloaded LBG MPs, se justifica, que a presença de HCl
necessário na formulação, em associação com a RFB faz com que exista um efeito
sinérgico na redução da viabilidade celular. É proposto a redução do ratio de RFB para um
inferior aos desenvolvidos, usar HCl 0.01M para a sua encapsulação, e testar um novo
excipiente para a redução da viscosidade da LBG.
A biocompatibilidade foi também avaliada, quando os sistemas micropartículados são
apresentados em aerossol. As micropartículas selecionadas foram as seguintes: Unloaded
LBG, LBG.INH 10:1, LBG.RFB 10:0.5 e LBG.INH.RFB 10:1:0.5 na dose 303 μg/cm2,
correspondente à concentração mais elevada em que amostras foram testadas quando
apresentadas em solução. As micropartículas foram insufladas sobre uma monocamada de
macrófagos alveolares. Como em todas se apresentou uma elevada redução de
citotoxicidade, selecionou-se as Unloaded LBG e LBG.INH.RFB 10:1:0.5 e testou-se na
dose 50 μg/cm2, verificando-se um aumento da viabilidade celular, em ambas, mas maior
nas partículas brancas. Reforçando também, que as doses testadas são elevadas,
comparativamente com a dose fármaco/sistema administrada in vivo, onde se esperam
melhores resultados de viabilidade celular.
Através de citometria de fluxo, foi analisado a capacidade de os macrófagos fagocitarem
micropartículas com a matriz de LBG nas linhas celulares referidas. Onde se verificou a
existência de uma elevada percentagem de fagocitose nos macrófagos diferenciados a partir
de THP-1 (99,5 %), e nas NR8383, uma preferência significativa por micropartículas de LBG
(94,35 %) comparativamente com um polímero sem mannose na sua estrutura (53,16%). Após comprovada a capacidade dos macrófagos em fagocitarem micropartículas de LBG, foi
avaliada a capacidade deste galactomanano em ativar macrófagos, diferenciados a partir de
THP-1, e que se encontram no estado M0 de ativação, para o estado M1, com capacidade
pro-inflamatória. Após a exposição destas células, á uma solução da matriz de LBG e de
micropartículas de LBG.INH.RFB 10:1:0.5 na dose de 303 μg/cm2, verificou-se que, devido a
sua estrutura, a LBG tem a capacidade de induzir a libertação de citocinas, factor de
necrose tumoral α e interleucina 8, num nível idêntico ao lipopolissacarídeo, presente na
parede bacteriana, e com num nível superior e estatisticamente significativo
comparativamente com o nível basal.
Estes resultados reforçam que as micropartículas obtidas a partir deste polímero, através de
atomização, apresentam propriedades aerodinâmicas que permitem que atinjam a região
alveolar, e sejam veículos de fármacos antituberculosos ou de um outro antibiótico. E devido
a sua estrutura com mannose, permitem que haja um reconhecimento específico pelos
macrófagos alveolares infetados, permitindo potenciar a sua fagocitose. Após este processo,
estas micropartículas permitem a libertação dos fármacos em meio intracelular, e ainda,
activarem os macrófagos, para um estado de ativação pro-inflamatório, que irá melhorar a
resposta inflamatória, e consequentemente, um melhor controlo o agente infecioso.
Description
Dissertação de Mestrado, Ciências Biomédicas, Departamento de Ciências Biomédicas e Medicina, Universidade do Algarve, 2016
Keywords
Administração pulmonar Goma de alfarroba Isoniazida Macrofagos alveolares Micropartículas Rifabutina Tuberculose