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Abstract(s)
Este artigo debruça-se sobre as possíveis funções de memorates sobre encontros
nocturnos com bruxas recolhidos em 2001-2002 em zonas rurais da Eslovénia oriental.As bruxas apareciam sob a forma de luzes e/ou faziam as pessoas extraviar-se, impediam-nas de prosseguir o seu caminho ou “transferiam-nas” para outro lugar.
As histórias sobre pessoas levadas por seres sobrenaturais poderiam fornecer uma desculpa culturalmente aceitável para um comportamento desviante, por exemplo num estado de embriaguez. Certos memorates mostram claramente que essas experiências vezes davam-se muitas vezes no regresso das feiras ou do trabalho e em ligação com bebedeiras. Pelo menos em certos casos, as descrições desses encontros serviam talvez para ocultar experiências sexuais ou fantasias sexuais de jovens do sexo masculino excitados pela tensão sexual.
As mulheres poderiam contar estas histórias como uma “arma” contra maridos ciumentos, e estes memorates tinham também uma função económica: as pessoas largavam do trabalho mais cedo e iam para a cama, de forma a não encontrar as bruxas, para estarem bem descansados para o trabalho no dia seguinte.
Mas a mais importante função dos memorates sobre encontros com “bruxas nocturnas” era a demarcação de espaços-fronteira e tempos-fronteira, lugares que se tornavam perigosos em certos momentos do dia.
Por fim, os memorates tinham uma função psicológica: contar histórias sobre essas
experiências (lugar, tempo, forma) proporcionava às pessoas um modo seguro de se
orientarem no espaço, tornava-as conscientes de quais os movimentos no espaço e no tempo que eram ou não permitidos e –se não seguiam tais regras– mostravam-lhes as consequências do seu comportamento.