Browsing by Author "Santos, Ana Alexandra Guerreiro dos"
Now showing 1 - 2 of 2
Results Per Page
Sort Options
- Bivalves marinhos do miocénio superior (Tortoniano superior) de Cacela (Algarve, Portugal)Publication . Santos, Ana Alexandra Guerreiro dos; Boski, T.O conhecimento e estudo da jazida fossilífera da Ribeira de Cacela, remonta aos meados do século passado. O interesse por esta jazida centra-se principalmente na grande riqueza e diversidade da fauna malacológica, dos quais há a destacar o excelente estado de preservação que estes apresentam. Muito embora existam numerosos trabalhos sobre esta jazida, escasseiam trabalhos de descrição, figuração e classificação da principal fauna fóssil aí existente, nomeadamente bivalves e gastrópodes. Pretende-se assim, retomar o estudo da jazida da Ribeira de Cacela, mais concretamente o estudo sistemático da malacofauna de bivalves, tendo ainda como objectivo subjacente abordar esta paleocomunidade desde o ponto de vista paleoecológico e biostratigráfico. O material malacológico recolhido e analisado provem do membro inferior da Formação de Cacela, denominado por "Conglomerados e areolas fossilíferas da Ribeira de Cacela", mais especificamente da camada 3, e resultou de dois tipos de amostragem: amostragem por busca e amostragem volumétrica. Do estudo realizado foi possível identificar um total de 85 espécies e subespécies, duas das quais identificadas com sinais de nomenclatura aberta. Estas espécies dislribuem-se por 61 géneros agrupados por 29 famílias. Há a destacar que, destas 85 espécies identificadas, 36 são primeira referência para a zona. A análise tafonómica da oriclocenose em estudo permitiu determinar o seu carácter subautóctone. Apesar de ser pouco frequente a ocorrência de bivalves com ambas as valvas unidas e em posição de vida, algumas das características observáveis permitem supor para o conjunto da fauna fóssil um tempo de exposição reduzido c transporte pouco significativo, seguido de um enterramento relativamente rápido. Essas características são a ausência de orientação posí-moríem das conchas no substrato, a ausência de selecção de tamanho dos exemplares, a preservação de estruturas de ornamentação delicadas, a preservação de restos ligamentos calcificados, bem como um baixo grau de acção biológica nas valvas. O estudo da paleocomunidade de bivalves do seu ponto de vista paleoambiental, permitiu obter uma visão das condições ambientais então vigentes no local, indiciando para a área dc estudo a presença de um ambiente marinho litoral, com hidrodinamismo de baixa a moderada energia, profundidade estimada para valores entre 20-30 metros, salinidade marinha semelhante à actual, temperatura das águas superior à que actualmente se observa para as latitudes em que se encontra a área, com regime térmico tropical a subtropical. Relativamente ao modo de vida das espécies identificadas, há o destacar a predomínio das endobentónicas, com predominância de filtradores. Finalmente, a partir da análise da distribuição estratigráfica das espécies de bivalves identificadas foi possível deduzir uma idade Miocénica superior para os sedimentos da camada fossilífera em análise.
- Tafonomia e paleoicnologia do neogénico superior do sector Cacela-Huelva (SE da Ibéria)Publication . Santos, Ana Alexandra Guerreiro dos; Mayoral, Eduardo; Boski, T.; Cachão, MárioO estudo das unidades neogénicas marinhas do Algarve (Portugal), concretamente a clássica jazida da Ribeira de Cacela, bem como as respectivas unidades correspondentes da província de Huelva (SO de Espanha) são alvo de atenções desde meados do século XIX por parte de numerosos autores, os quais contribuíram com elevado numero de estudos nas mas variadas áreas da paleontologia. A trajectória evolutiva dos estudos paleoicnológicos realizados em ambas áreas é contrastante, uma vez que na área portuguesa esta temática apenas começou a ser abordada, de forma pontual e dispersa, a partir de meados dos anos 90, ao contrário dos materiais neogénicos da província de Huelva, em que o estudo do seu conteúdo paleoicnológico apresenta uma maior maturidade em termos de conhecimento, uma vez que vem sendo estudado de forma sistemática e contínua desde há mais de 20 anos. Neste contexto, o presente trabalho pretende retomar, por um lado, o estudo da clássica jazida fossilífera da Ribeira de Cacela (Portugal), do ponto de vista paleoecológico, concretamente com base na informação fornecida por qualquer actividade de organismos sobre substratos duros e substratos não consolidados (estruturas etológicas de bioerosão e bioturbação) e, por outro, a continuação do estudo desta área temática em materiais do Pliocénico inferior da província de Huelva (Espanha). A razão deste interesse reside no facto de que o conjunto destas jazidas fossilíferas constituem não só dois dos afloramentos mais importantes dentro do registo paleontológico tortoniano superior para o Algarve e pliocénico inferior para a província de Huelva, mas também por apresentarem um interesse paleogeográfico muito elevado, constituindo pontos de referencia para a interpretação paleoambiental da bacia de Guadalquivir. Assim, a área geográfica seleccionada para a realização deste trabalho situa-se no extremo sudeste de Portugal e sudoeste de Espanha, concretamente nas proximidades da localidade de Cacela Velha (jazida da Ribeira de Cacela) e da localidade de Niebla (Jazidas de Las Presas e de Los Cristos), respectivamente. As jazidas estudadas caracterizam-se por apresentarem uma grande riqueza e diversidade no que diz respeito às associações fossilíferas presentes nos sedimentos que nelas afloram. A sua grande diferença reside na idade, uma vez que a jazida da Ribeira de Cacela está datada como tortoniano superior (Miocénico superior), enquanto as duas jazidas do sector espanhol estão datadas como Zancliano (Pliocénico inferior). Do ponto de vista metodológico, realizou-se uma amostragem estratificada aleatória em todas as camadas das jazidas em estudo. Previamente à obtenção das amostras realizaram-se as observações tafonómicas que serviram para complementar o estudo paleoecológico posterior. As amostras recolhidas foram estudadas e analisadas do ponto de vista paleontológico e paleoicnológico. Com o objectivo de diferenciar amostras definidas por diferentes variáveis, em conjuntos mais ou menos homogéneos, utilizou-se a Análise de agrupamentos ou clusters pelo método de ligação por média grupai (Group average linking) em modo Q e através da distância euclidiana, que permitiu diferenciar duas tafofácies principais: Tafofácies de concentrações de conchas e Tafofácies dos Intemíveis arenosos. Do ponto de vista da paleoicnologia sistemática, a diversidade observada nas três jazidas em estudo é notável, tendo-se estabelecido 32 tipos de evidências distintas. São descritas e figuradas um total de seis atribuições sistemáticas morfotípicas e. 31 icnoespécies pertencentes a 22 icnogéneros. Destas icnoespécies, quatro foram identificadas com sinais de nomenclatura aberta (cf. e ichnosp. indet.). No que diz respeito às estruturas bioerosivas, observa-se uma certa homogeneidade em relação ao número de icnotáxones identificados enquanto que, a nível das estruturas de bioturbação, as jazidas do sector espanhol apresentam uma maior diversidade e abundância de icnotáxones. Em termos de diversidade de espécies de moluscos bivalves, as famílias melhor representadas são: Veneridae com 18 espécies; Pectinidae com 14 espécies; Tellinidae com 10 espécies e Cardiidae com nove espécies. As restantes famílias apresentam número de espécies inferior a nove. Os cálculos de Diversidade (H) expressam valores relativamente elevados, constatandose que, na maior parte das vezes, as associações fósseis em que se observa aumento dos valores de diversidade estão associadas a níveis de concentração de conchas relacionados com eventos de alta energia hidrodinâmica (tempestades). Por outro lado, a análise das relações predador-presa, através de evidências de perfurações do tipo Oichnus, permitiram reconhecer áreas de preferência por parte dos predadores e sua relação com a posição da presa no substrato, assim como determinar a proporção entre o tamanho de presa e do predador. A distribuição selectiva das perfurações indica alguns comportamentos estereotípicos na selecção da zona a atacar pelos gastrópodes, embora a área preferida para o ataque possa variar em função de factores bióticos (tamanho, ornamentação e modo de vida da presa) e abióticos (condições ambientais do meio sedimentar: temperatura, salinidade, hidrodinamismo). Estes factores podem condicionar de forma negativa o comportamento dos predadores, no sentido de evidenciarem uma conduta mais irregular e modelos menos rígidos e uniformes. Neste contexto, as três jazidas em estudo, apresentam bastantes semelhanças na localização das perfurações do tipo Oichnus, observando-se um padrão de localização idêntico quer para as espécies pertencentes à infauna, quer às pertencentes à epifauna e, em alguns casos, comportamentos estereotípicos. A taxa de bioerosão obtida é baixa e sensivelmente igual para as três jazidas, variando entre os 11-12%. Do ponto de vista das estruturas bioerosivas, as relacionadas com a actividade perfurante de organismos não predadores dominam, aparecendo por ordem de importância primeiro as relacionadas com as microperfurações de talófitas, anelídeos poliquetas (Caulostrepsis-Maeandropolydora), esponjas clionídeas {Entobid) e briozoários ctenostomados {Pinaceocladichms). Por último, e com base na localização das estruturas bioerosivas estudadas foi possível determinar três fases distintas, no que se refere à sua sequência de colonização. Uma primeira fase (Fase 1), relacionada com os registos que mostram uma clara produção em vida do substrato anfitrião; uma segunda fase (Fase 2), relacionada com os registos que se produziram na etapa imediatamente posterior à morte do bivalve, quando este ainda conservava, em muito casos, uma posição próxima à de vida, e por último, uma Fase 3, relacionada com os registos produzidos claramente post-mortem do substrato anfitrião.