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Abstract(s)
Baleen whales such as humpback (Megaptera novaeangliae) and fin whales (Balaenoptera physalus) are among the most highly migratory marine species. After experiencing severe population declines during the whaling era, both species are now showing signs of recovery. However, their complex movement patterns, wide-ranging distribution, and the absence of clearly defined population boundaries—particularly in the North Atlantic—pose challenges for monitoring and effective conservation efforts. While certain areas are recognized as key migratory corridors, the role of the southern Iberian coast, including the Algarve region in south of Portugal, remains largely unexplored. This thesis presents the first two photo-identification (photo-ID) catalogs of humpback and fin whales in the Algarve, establishing baseline data for this understudied region. The humpback whale chapter documents occurrences collected from 2009 to 2024 in collaboration with whale-watching companies and the Algarve Stranded Network (RAAlg). Fluke photo-ID allowed for the identification of 13 unique individuals. Comparison with the North Atlantic Humpback Whale Catalog identified matches with individuals previously sighted in distant locations, including Cabo Verde, the Ligurian Sea, and Scotland. Entanglement, particularly among juveniles, emerged as a recurrent anthropogenic threat. The fin whale chapter analyzes opportunistic data collected from 2020 to 2024, namely photo-ID and GPS boat tracks, resulting in a catalog of 86 unique individuals. Spatial capture-recapture modeling estimated a local population of 1,476 individuals suggesting that a large part of the population hasn’t been identified yet. Sightings peaked in spring and were often associated with feeding behavior, suggesting that the Algarve may serve as a seasonal foraging ground. However, low re-sighting rates across years suggest a transient rather than a resident use of the area. These findings highlight the ecological relevance of the Algarve for migratory baleen whales and underline the value of photo-ID and collaborative data collection with whale-watching companies. The two catalogs provide essential references for future research and inform conservation strategies in Portuguese waters.
A conservação de espécies marinhas migratórias, como as baleias de barbas, exige um conhecimento aprofundado sobre a sua distribuição, ecologia e ameaças. Estas espécies percorrem vastas áreas oceânicas, cruzando fronteiras internacionais e utilizando múltiplos habitats ao longo do ano. Apesar da sua importância ecológica e do interesse global pela sua conservação, muitas regiões do Atlântico Norte continuam sub-amostradas, o que dificulta a implementação de medidas eficazes de gestão. A costa sul de Portugal, particularmente o Algarve, é uma dessas regiões. Apesar da crescente atividade de observação de cetáceos na região, onde poucos estudos científicos se dedicaram a documentar a ocorrência regular de baleias de barbas, a sua ocorrência, os seus padrões de migração e as potenciais ameaças antropogénicas que enfrentam. Esta tese pretende colmatar essa lacuna, estabelecendo os primeiros catálogos de foto-identificação regionais de duas espécies emblemáticas de baleias de barbas: a baleia-de-bossa (Megaptera novaeangliae) e a baleia-comum (Balaenoptera physalus). O primeiro manuscrito desta dissertação é dedicado à baleia-de-bossa e documenta dados recolhidos entre 2009 e 2024. Durante este período, foram registadas 17 ocorrências ao longo da costa do Algarve, dos quais 14 envolveram avistamentos no mar e 3 corresponderam a indivíduos encontrados mortos na costa. Os dados foram recolhidos em colaboração com empresas locais de observação de cetáceos e a Rede de Arrojamentos do Algarve (RAAlg). A identificação individual baseou-se na análise das barbatanas caudais utilizando padrões de pigmentação e características morfológicas únicas. Treze indivíduos únicos foram identificados com sucesso, e as suas imagens foram processadas e comparadas internamente e com o catálogo do Atlântico Norte (North Atlantic Humpback Whale Catalog — NAHWC). Três destes indivíduos foram avistados anteriormente em regiões distintas do Atlântico Norte: nas proximidades das Ilhas de Cabo Verde, no mar de Ligúria (Itália) e nas águas costeiras de Gairloch (Escócia). Estes resultados confirmam a conectividade migratória entre o Algarve e importantes áreas de reprodução e alimentação da população do Atlântico Norte. A distribuição temporal dos avistamentos revelou um padrão sazonal bem definido, com maior frequência na primavera (maio-junho) e no início do outono (setembro-outubro). Estes períodos coincidem com os picos de produtividade primária, levando ao incremento de toda a cadeia trófica, e em particular as baleias de barbas. Alguns indivíduos foram reavistados em locais distintos da costa algarvia com poucos dias de intervalo, indicando movimentações locais e possível uso transitório da área para alimentação. Um dos indivíduos (Mn110) foi registado três vezes em seis dias consecutivos na zona de Sagres, enquanto outro (Mn106) foi observado em Faro, Lagos e Sagres no espaço de 12 dias. Estes comportamentos reforçam a hipótese de que o Algarve poderá funcionar como uma “stopover” migratória estratégica. Os três registos de indivíduos arrojados apresentavam interações com atividades pesqueiras. Mn101, encontrado em Tavira, foi identificado como um jovem macho que anteriormente havia sido avistado nas águas da Ilha da Boavista (Cabo Verde) dois meses antes, confirmando não só a ligação entre as duas regiões como também o elevado risco que crias e juvenis enfrentam ao longo das suas rotas migratórias. Estes episódios de interação com artes de pesca sugerem que a mortalidade não natural, causada por impactos antropogénicos, pode estar sub-estimada nesta região, onde a pesca artesanal com redes de emalhar e armadilhas é amplamente praticada. O segundo manuscrito foca-se na baleia-comum e constitui o primeiro estudo sistemático sobre esta espécie na região de Faro. Os dados foram recolhidos entre 2020 e 2024 através de excursões de observação de cetáceos, com registo de imagens fotográficas e trajetos GPS das embarcações. Foi criado um catálogo com 86 indivíduos únicos, com base nas características morfológicas da barbatana dorsal, padrões de coloração e marcas específicas. Estes dados foram posteriormente analisados através de um modelo de captura-recaptura (spatial explicit IV capture-recapture — SECR), o que permitiu estimar uma população local de 1.476 indivíduos. A distribuição sazonal dos avistamentos mostrou um pico claro na primavera, particularmente entre março e maio, coincidindo com períodos de elevada produtividade primária. Durante este período, foram frequentemente observados comportamentos de alimentação e agregações mistas com outras espécies, como o golfinho-comum (Delphinus delphis), o roaz-corvineiro (Tursiops truncatus) e a baleia-anã (Balaenoptera acutorostrata). Este tipo de interação sugere que a área de Faro pode servir como um local de alimentação temporária, utilizado durante a sua migração. Apesar da abundância estimada ser relativamente elevada, a taxa de recaptura inter-anual foi baixa, o que indica que a maioria dos indivíduos observados provavelmente utiliza a região de forma transitória, e que a maioria da população ainda está por ser identificada. No entanto, alguns indivíduos foram reavistados dentro do mesmo ano, reforçando a possibilidade de fidelidade sazonal ao local. Do ponto de vista metodológico, a dissertação demonstra a eficácia da utilização de plataformas de oportunidade, como as embarcações de observação de cetáceos, para recolha de dados científicos em regiões com escassez de dados científicos. Em síntese, esta dissertação fornece os primeiros dados estruturados sobre a presença, os movimentos e as ameaças que afetam baleia-de-bossa e baleias-comuns na região do Algarve. Descrevem-se pela primeira vez a ligação do Algarve com outros locais no Atlântico Norte, os padrões sazonais de uso do habitat, e as interações com artes de pesca. Estas conclusões destacam a relevância ecológica da região do Algarve para as baleias de barbas e sublinham o valor da foto-identificação e da recolha colaborativa de dados com empresas de observação de cetáceos. Os dois catálogos fornecem referências essenciais para futuras investigações e contribuem para o desenvolvimento de estratégias de conservação nas águas portuguesas.
A conservação de espécies marinhas migratórias, como as baleias de barbas, exige um conhecimento aprofundado sobre a sua distribuição, ecologia e ameaças. Estas espécies percorrem vastas áreas oceânicas, cruzando fronteiras internacionais e utilizando múltiplos habitats ao longo do ano. Apesar da sua importância ecológica e do interesse global pela sua conservação, muitas regiões do Atlântico Norte continuam sub-amostradas, o que dificulta a implementação de medidas eficazes de gestão. A costa sul de Portugal, particularmente o Algarve, é uma dessas regiões. Apesar da crescente atividade de observação de cetáceos na região, onde poucos estudos científicos se dedicaram a documentar a ocorrência regular de baleias de barbas, a sua ocorrência, os seus padrões de migração e as potenciais ameaças antropogénicas que enfrentam. Esta tese pretende colmatar essa lacuna, estabelecendo os primeiros catálogos de foto-identificação regionais de duas espécies emblemáticas de baleias de barbas: a baleia-de-bossa (Megaptera novaeangliae) e a baleia-comum (Balaenoptera physalus). O primeiro manuscrito desta dissertação é dedicado à baleia-de-bossa e documenta dados recolhidos entre 2009 e 2024. Durante este período, foram registadas 17 ocorrências ao longo da costa do Algarve, dos quais 14 envolveram avistamentos no mar e 3 corresponderam a indivíduos encontrados mortos na costa. Os dados foram recolhidos em colaboração com empresas locais de observação de cetáceos e a Rede de Arrojamentos do Algarve (RAAlg). A identificação individual baseou-se na análise das barbatanas caudais utilizando padrões de pigmentação e características morfológicas únicas. Treze indivíduos únicos foram identificados com sucesso, e as suas imagens foram processadas e comparadas internamente e com o catálogo do Atlântico Norte (North Atlantic Humpback Whale Catalog — NAHWC). Três destes indivíduos foram avistados anteriormente em regiões distintas do Atlântico Norte: nas proximidades das Ilhas de Cabo Verde, no mar de Ligúria (Itália) e nas águas costeiras de Gairloch (Escócia). Estes resultados confirmam a conectividade migratória entre o Algarve e importantes áreas de reprodução e alimentação da população do Atlântico Norte. A distribuição temporal dos avistamentos revelou um padrão sazonal bem definido, com maior frequência na primavera (maio-junho) e no início do outono (setembro-outubro). Estes períodos coincidem com os picos de produtividade primária, levando ao incremento de toda a cadeia trófica, e em particular as baleias de barbas. Alguns indivíduos foram reavistados em locais distintos da costa algarvia com poucos dias de intervalo, indicando movimentações locais e possível uso transitório da área para alimentação. Um dos indivíduos (Mn110) foi registado três vezes em seis dias consecutivos na zona de Sagres, enquanto outro (Mn106) foi observado em Faro, Lagos e Sagres no espaço de 12 dias. Estes comportamentos reforçam a hipótese de que o Algarve poderá funcionar como uma “stopover” migratória estratégica. Os três registos de indivíduos arrojados apresentavam interações com atividades pesqueiras. Mn101, encontrado em Tavira, foi identificado como um jovem macho que anteriormente havia sido avistado nas águas da Ilha da Boavista (Cabo Verde) dois meses antes, confirmando não só a ligação entre as duas regiões como também o elevado risco que crias e juvenis enfrentam ao longo das suas rotas migratórias. Estes episódios de interação com artes de pesca sugerem que a mortalidade não natural, causada por impactos antropogénicos, pode estar sub-estimada nesta região, onde a pesca artesanal com redes de emalhar e armadilhas é amplamente praticada. O segundo manuscrito foca-se na baleia-comum e constitui o primeiro estudo sistemático sobre esta espécie na região de Faro. Os dados foram recolhidos entre 2020 e 2024 através de excursões de observação de cetáceos, com registo de imagens fotográficas e trajetos GPS das embarcações. Foi criado um catálogo com 86 indivíduos únicos, com base nas características morfológicas da barbatana dorsal, padrões de coloração e marcas específicas. Estes dados foram posteriormente analisados através de um modelo de captura-recaptura (spatial explicit IV capture-recapture — SECR), o que permitiu estimar uma população local de 1.476 indivíduos. A distribuição sazonal dos avistamentos mostrou um pico claro na primavera, particularmente entre março e maio, coincidindo com períodos de elevada produtividade primária. Durante este período, foram frequentemente observados comportamentos de alimentação e agregações mistas com outras espécies, como o golfinho-comum (Delphinus delphis), o roaz-corvineiro (Tursiops truncatus) e a baleia-anã (Balaenoptera acutorostrata). Este tipo de interação sugere que a área de Faro pode servir como um local de alimentação temporária, utilizado durante a sua migração. Apesar da abundância estimada ser relativamente elevada, a taxa de recaptura inter-anual foi baixa, o que indica que a maioria dos indivíduos observados provavelmente utiliza a região de forma transitória, e que a maioria da população ainda está por ser identificada. No entanto, alguns indivíduos foram reavistados dentro do mesmo ano, reforçando a possibilidade de fidelidade sazonal ao local. Do ponto de vista metodológico, a dissertação demonstra a eficácia da utilização de plataformas de oportunidade, como as embarcações de observação de cetáceos, para recolha de dados científicos em regiões com escassez de dados científicos. Em síntese, esta dissertação fornece os primeiros dados estruturados sobre a presença, os movimentos e as ameaças que afetam baleia-de-bossa e baleias-comuns na região do Algarve. Descrevem-se pela primeira vez a ligação do Algarve com outros locais no Atlântico Norte, os padrões sazonais de uso do habitat, e as interações com artes de pesca. Estas conclusões destacam a relevância ecológica da região do Algarve para as baleias de barbas e sublinham o valor da foto-identificação e da recolha colaborativa de dados com empresas de observação de cetáceos. Os dois catálogos fornecem referências essenciais para futuras investigações e contribuem para o desenvolvimento de estratégias de conservação nas águas portuguesas.
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Balaenoptera physalus Megaptera novaeangliae Migração Fotoidentificação Observação de cetáceos
