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As espécies não-nativas invasoras estão reconhecidamente entre as principais causas de declínio da biodiversidade nativa, podendo levar a uma drástica homogeneização de fauna e/ou flora em determinados locais. Cada vez mais surgem novos estudos a fim de se conhecer melhor os mecanismos (fisiológicos e comportamentais) envolvidos no sucesso que determinadas espécies apresentam após sua introdução em novos ambientes. Tais conhecimentos são de grande importância para o desenvolvimento de programas de controlo e manejo de espécies não-nativas que sejam específicos para determinado taxon e assim produzam pouco ou nenhum impacto nas espécies nativas. Levando-se em conta a composição da ictiofauna de água doce em Portugal (pouco diversa e com altos níveis de endemismos, além da presença de um grande número de espécies não-nativas), e adicionando a crescente preocupação em conservação e proteção das espécies nativas (incluindo sugestões na alteração da legislação vigente sobre espécies não-nativas e invasoras), esta tese teve como principal objetivo traçar um perfil fisiológico e comportamental do único ciclídeo encontrado na natureza em Portugal, o chanchito Australoheros facetus. Para tal, realizou-se um estudo sobre a possível pressão que A. facetus possa estar produzindo na comunidade de peixes local, através de análises ecológicas das as quantidades e proporções entre nativas e não-nativas em duas bacias distintas ao sul de Portugal (Guadiana e Arade) (Capítulo 2). Além disso, de acordo com possíveis cenários de alterações climáticas, principalmente relacionados ao aumento de períodos de extrema seca ou chuvas torrenciais, esta tese avaliou as capacidades adaptativas de A. facetus frente a mudanças na temperatura (Capítulo 3) e salinidade (Capítulo 4) da água. Desta forma tentou-se traçar uma predição acerca da possibilidade de sobrevivência e/ou colonização em águas de alto estuário, ou utilização dos mesmos como formas de se alcançar corpos de água doce até então sem a presença de A. facetus. Como forma de se conhecer os comportamentos-chave ligados a organização social e reprodução da espécie, foram utilizados estudos etológicos em laboratório, com análises de perfil hormonal, que levaram a construção do etograma da espécie, inexistente até o momento (Capítulo 5). Um importante aspeto acerca da organização social nesta espécie está ligado a forma como animais territoriais (dominantes) e não-territoriais (subordinados) comunicam seus estados e assim evitam possíveis conflitos desnecessários. Desta forma, procedeu-se com uma investigação inicial sobre comunicação química, através de pistas químicas lançadas pelo fluido intestinal e ácidos biliares (Capítulo 6). Para finalizar, procedeu-se a uma avaliação do estado atual de A. facetus em Portugal no que concerne a legislação ambiental vigente sobre espécies não-nativas e invasoras, utilizando dos resultados obtidos durante todo o desenvolvimento desta tese (Capítulo 7). Como principais resultados, no Capítulo 2 encontramos importantes valores de abundância e biomassa de A. facetus nas ribeiras estudadas. No Capítulo 3 descrevemos a grande amplitude térmica suportada por esta espécie com especial atenção aos valores mínimos os quais permitem sua sobrevivência durante o inverno português, e no Capítulo 4 demostramos a possibilidade de utilização de corpos de água salobra como pontes entre corpos de água doce. No Capítulo 5 vêm descritos os altos valores de cortisol em indivíduos subordinados (demonstrando um estado de estresse social) bem como a validação da ausência de estradiol-17β em machos de A. facetus. No Capítulo 6 incidimos sobre uma possível comunicação do estatuto de dominante através de liberação de sinais químicos. Acima de tudo, um importante contributo é a sugestão da alteração de estado de ‘espécie não-nativa’ para ‘espécie invasora’ em Portugal, desta maneira restringindo o manuseio e utilização desta espécie e evitando impactos ainda maiores na ictiofauna nativa. Com base nos conhecimentos sobre a biologia de A. facetus, um dos caminhos futuros sugeridos é um aprofundamento sobre a comunicação química entre machos e fêmeas a fim de se desenvolver uma ferramenta química específica (e.g. uma isca para aprisionamento de machos) que possa resultar em uma disrupção de sua reprodução nas ribeiras. Iniciativas de educação ambiental também devem ser reforçadas, visto que facilmente se encontram informações on-line sobre a possibilidade de aquisição de exemplares de A. facetus para criação em aquários. As espécies não-nativas e exóticas apresentam um problema de proporções globais, assim, o controle local de espécies que ainda não apresentam populações com grande distribuição geográfica, reduz o investimento financeiro necessário e aumenta a probabilidade de sucesso de tais programas.
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Keywords
Tolerância ambiental Comportamento social Comportamento reprodutivo