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Anthracological analysis of Late Iron Age Shell-Middens Complex at Praia do Tofo and Praia da Rocha, Inhambane, Mozambique

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Abstract(s)

Na África Austral, para o período do Holoceno, já são numerosos os sítios arqueológicos que aplicam análises antracológicas (Cartwright et al., 2016; Chikumbirike, 2014; Cowling et al., 1999; Deacon, 1979). Compreender a presença do carvão vegetal nos sítios arqueológicos ao nível paleoetnobotânico permite entender a relação entre as sociedades humanas e a paisagem circundante e, por sua vez, ao nível paleoecológico pode aferir as possíveis alterações na formação da vegetação lenhosa. Assim, estudos antracológicos em sítios arqueológicos são de grande importância e constituem uma fonte de informação com muitas possibilidades interpretativas. Esta dissertação apresenta o estudo dos carvões arqueológicos recolhidos em sete concheiros situados na costa do município de Inhambane, Moçambique. Dois concheiros foram identificadas no topo das dunas na Praia do Tofo, os outros cinco concheiros foram identificados na Praia da Rocha, datados de aproximadamente 400 anos BP. O principal objetivo deste estudo é compreender a relação entre as comunidades humanas do passado e o paleoambiente, sob a perspectiva da aquisição de lenha, ainda pouco conhecida em Moçambique. Assim, os padrões espaciais resultantes da distribuição dos táxons lenhosos foram analisados para obter informações paleoetnobotânicas sobre a seleção e uso de madeira durante a Idade do Ferro Antigo, na costa do município de Inhambane. Nesse sentido, o objetivo do estudo será avaliar as estratégias de exploração e uso de espécies lenhosas do ponto de vista sociocultural e econômico. Por outro lado, outro objetivo será determinar possíveis mudanças na vegetação, tanto por ação antrópica como climática. A maioria dos carvões analisados provém de recolhas superficiais, onde os materiais se encontravam confinados a uma pequena área. A maioria do carvão arqueológico recolhido corresponde a depósitos de carvão dispersos (Setor Shell, Tofo 2, PR1, PR14, PR15, PR4 e PR7), que são o resultado de atividades e diferentes tempos de combustão durante um período e transportados após uso para depósitos de lixeira (Bentsen, 2013, 2014). Outros contextos estudados (Hearth1 e Hearth2) podem ter tido uma função específica como estrutura de combustão. O carvão concentrado presente pode refletir atividades específicas ou de curto prazo. Finalmente, além de carvões domésticos, um dos concheiros na Praia da Rocha (PR1) corresponde a um enterramento humano. Aí, os carvões recolhidos provêm de material disperso (depósitos de lixeira) e de um contexto específico (natureza funerária), podendo apresentar dois momentos de depósitos, com parte do carvão arqueológico possivelmente associada ao enterramento. 529 fragmentos de carvão vegetal foram analisados nos três planos diagnósticos (transversal, longitudinal tangencial e longitudinal radial) com o apoio de microscópios de luz refletiva (Olympus BX51TRF e Leica DP2500) ampliado até 500 vezes. Como nenhum atlas anatômico de madeira específico para esta região está disponível, foi criado uma base de dados para conhecer a vegetação moderna da província de Inhambane (Digital supplementary materials 2 - Taxonomic and taphonomic Database study. xlsx). Consiste essencialmente em três tipos de informações: a flora moderna (Burrows et al., 2018), referências on-line que possuem imagens com a descrição da estrutura celular (Allott, 2005; Chikumbirike, 2014; Lennox, 2016) e os códigos anatômicos da lista da “International Association of Wood Anatomists” (IAWA) para a identificação da madeira (InsideWood, 2004-onward; Wheeler, 2011). A análise antracológica revelou o uso de onze taxa, são eles: cff. Avicennia marina, cff. Harpephyllum, Combretum sp, Burkea cf. africana, Diospyros cf. natalensis, Ekebergia cf. Capensis, Mystroxylon aethiopicum, Brachylaena cf. discolor, Catunaregam cf. spinosa e Euclea cf. natalensis. Dos 529 fragmentos de carvão analisados nos concheiros da Praia do Tofo e da Praia da Rocha, 314 foram identificados como Euclea cf. natalensis, seguido por 77 fragmentos de Diospyros cf. natalensis. Estes dois taxa em termos quantitativos surgem em todos os concheiros estudados e são os mais representativos. Assim, por meio da análise taxonómica, conclui-se que 1) a combinação destes dois táxons (Diospyros cf. natalensis e Euclea cf. natalensis) parece representar um padrão de utilização da madeira principalmente escolhido como combustível, 2) algumas espécies terão tido fins domésticos, como os identificados em Hearth1 e Hearth2, 3) maioria dos carvões analisados, provém de depósitos secundários (transportados para um depósito de lixeira após uso como combustível) e 4) a provável associação de Combretum sp. e Ekebergia cf. capensis com o enterramento. Estas duas últimas espécies podem estar relacionadas a crenças culturais ou a certos tipos de cerimônias fúnebres. Combretum apiculatum, C. zehyeri e Ekebergia capensis são usados pelas comunidades Incwala e Zulu como encantos ou em cerimónias, incluindo funerais (Hardwick, 2013). Quanto à análise tafonômica dos carvões em estudo, uma vez que a porcentagem de madeira afetada por microorganismos no complexo antracológico estudado é pequena, é pertinente supor que a madeira utilizada como combustível pelas comunidades de Inhambane estaria principalmente em boas condições (Théry-Parisot et al., 2010). Por sua vez, as mudanças morfológicas, nomeadamente os nódulos (Martín Seijo, 2013), podem sugerir a recolha de madeira pequena, sustentada pelo fato de Euclea cf. natalensis ser o táxon onde mais nódulos foram identificados, táxon mais representativo e quantitativo dos concheiros analisados. Mesmo sem ter concluído a análise antracológica total dos carvões recolhidos (Hearth1, Hearth2, PR1 e, PR14), os resultados obtidos através da análise de carvão apontam para uma relação semelhante com as espécies de savana da floresta de Miombo no diagrama de pólen de Vilanculos, particularmente com a presença de Combretaceae e Euclea na paisagem há cerca de 400 anos BP, o que é corroborado pelos dados antracológicos apresentados nesta tese. Isso leva a considerar que a paisagem circundante da Praia do Tofo e da Praia da Rocha não terá sofrido grandes mudanças em termos de composição vegetativa, pois os táxons identificados permanecem presentes ao longo do tempo. Assim, o conjunto antracológico permitiu compreender a relação entre as comunidades humanas do passado e o paleoambiente, sob a perspectiva da aquisição de lenha. O tipo de paisagem que floresceu durante as comunidades agrícolas tardias, reflete a distribuição das árvores e arbustos ao redor dos concheiros estudados na costa de Inhambane e são, igualmente, o testemunho de um sistema de assentamentos na costa de Moçambique (Senna-Martinez, 1969).
Archaeological charcoal specimens from seven shell-middens were identified and the spatial patterns resulting from the distributions of the woody taxa were analyzed for paleoethnobotanical information about wood selection and use during the Late Iron Age in coastal Inhambane. Most of the charcoal samples come from surface collections. Some samples were collected from two hearths identified in one of the shell-middens. Other samples came from trach areas from five shell-midden. The last sample is associated to a human burial and may have resulted from two different deposition moments. Of the eleven taxa identified the species Diospyros cf. natalensis and Euclea cf. natalensis are present in all shell-middens and represent probably a preferential woody resource. Combretum sp. and Ekebergia cf. capensis are probably associated with the burial. Lastly, the surrounding landscape of the shell-middens will not have major changes in terms of vegetative composition, as the taxa identified remain present over time.

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Late Iron Age:anthracology Shell-middens Taxonomy Taphonomy Landscape Inhambane coast Mozambique.

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