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  • A iconografia de África na cartografia portuguesa no início da Idade Moderna (sécs. XV e XVI)
    Publication . Firmino, Henrique Borges Rosa e Costa; Araújo, Renata Klautau Malcher de
    A Cartografia tem sido alvo de inúmeros estudos, investigações e debates ao longo dos séculos, seja pela sua história ou pela influência que teve em momentos marcantes da Humanidade. Durante os Descobrimentos, a cartografia foi uma das ferramentas de orientação das navegações, e consequentemente, um meio de expressão das novas descobertas. No impulsionar da Era dos Descobrimentos, a imagem passou a ter um peso intrínseco às cartas, uma vez que estas representavam, geralmente, interesses político-religiosos, interesses nacionais, ou interesses de cariz social. A iconografia, por sua vez, na forma de iluminuras e miniaturas pintadas nos pergaminhos com as partes do mundo se queria representar já desenhada, foi recorrente na cartografia medieval e manteve-se até à Modernidade, muitas vezes evidenciando as novas descobertas, mas quase sempre interpretativa num dado contexto ou espaço geopolítico, evidenciando uma linha unilateral e uma leitura enviesada dos mapas. Simultaneamente, a empresa dos descobrimentos portugueses auxiliou-se da cartografia para mapear, representar e ilustrar as terras e povos recém-descobertos, exaltando cada vez mais a conquista de territórios antes desconhecidos. A presente tese pretende demonstrar como a cartografia quinhentista serviu para legitimar as conquistas e empresas ao longo da costa africana, mas também para dar a conhecer ao Ocidente uma parte até então pouco conhecida. O objetivo será estudar o caso africano recorrendo às imagens, mitos e iluminuras presentes na cartografia portuguesa, enquanto elementos de expressão artística, mas também de representação socio-político-religiosa da África subsaariana, na ótica europeia.
  • A relação entre self-esquemas sexuais, self-consciência e self-regulação e a coerção sexual subtil: um estudo correlacional com adultos portugueses
    Publication . Pereira, Mónica Santos; Gomes, Alexandra
    A coerção sexual é uma forma de violência sexual que pode ser definida como o uso de táticas não físicas perante a recusa de envolvimento numa relação sexual por um dos parceiros. A presente investigação pretende estudar a relação entre os self-esquemas sexuais, a self-consciência e self-regulação com a coerção sexual subtil através de um estudo correlacional com população adulta portuguesa. Foi criado um questionário sociodemográfico, com o intuito de recolher informação relativa à idade, género, estado civil dos participantes. Utilizou-se ainda a versão portuguesa da Escala de Self-esquemas sexuais de Andersen e Cyeanowski (1994) para mulheres e da escala para homens de Andersen (1999), intitulada “Descreva-se a si próprio”, a Escala de Self-consciência de Scheie e Carver (1997), a Escala de Self-regulação de Schwarzer, Diehl e Schmitz (1999) e as Escalas de Coerção Sexual do Perpetrador e da Vítima de Mathes e McCoy (2011). A amostra foi composta por 218 participantes, 130 mulheres e 88 homens, com idades compreendidas entre os 18 e os 71 anos. Os resultados deste estudo não se revelaram significativos, de modo que não nos foi possível o estabelecimento de um modelo teórico explicativo da coerção sexual.
  • Mapeamento e mitigação de riscos ocupacionais na indústria corticeira: um estudo de caso em ambiente fabril
    Publication . Silva, Mário Jorge Castela da; Sousa, António
    Num mundo em constante transformação, caracterizado pelo incremento da procura de bens e pela necessidade de adotar práticas de produção sustentáveis, emerge a indústria 4.0 [I4.0] definida pela automação e digitalização dos processos. Como evolução natural, Coelho et al. (2022) introduzem o conceito de Indústria 5.0 [I5.0], marcando a transição para uma nova fase que enfatiza a centralidade do ser humano na inovação industrial, refletindo as aspirações da União Europeia [EU] para o futuro da indústria. Este cenário apresenta desafios significativos na área da segurança e saúde no trabalho [SST], exigindo novas abordagens. O presente estudo de caso aclara como a Corticeira Amorim enfrenta esses desafios, através de uma parceria estratégica com a UAlg, reconhecida pela sua competência científica e técnica e pelo seu compromisso com o desenvolvimento social. Realizado numa unidade industrial em Silves, distrito de Faro, o estudo focou-se na identificação, avaliação e mitigação dos riscos inerentes ao processo produtivo. A investigação iniciou pela análise das metodologias de gestão dos riscos de SST existentes. Concluiu-se pela inadequação dos métodos qualitativos para os objetivos propostos, dada a sua limitação em abordar a complexidade dos riscos adequadamente. Similarmente, os métodos quantitativos foram preteridos devido à sua complexidade, custos e limitações temporais. Assim, adotou-se a Metodologia de Avaliação de Riscos e Acidentes de Trabalho [M.A.R.A.T.], um método simplificado já incorporado nas práticas da empresa com outra designação. O estudo adotou uma abordagem semiquantitativa e transversal, incluindo uma amostra de 31 colaboradores. As conclusões destacam a crescente complexidade nos ambientes industriais e a urgência de implementar estratégias concentradas nas áreas críticas. É fundamental a aceitação e adesão dos trabalhadores às novas práticas, face aos desafios e oportunidades que emergem da interação entre homem e máquina, enfatizando a importância de as organizações adotarem uma postura proativa.
  • Contributos para o estudo da relação entre a orientação cultural, os estilos de gestão de conflitos e a inteligência cultural entre Brasil e Portugal
    Publication . Silva, Dyescica Gonçalves da; Santos, Joana Conduto Vieira dos
    A globalização trouxe muitas mudanças em todos os âmbitos da vida humana, inclusive no meio organizacional, que enfrentam o desafio de atuar em um ambiente de diversidade cultural (Desrayaud & Hurley, 2023). A diversidade cultural tem se tornado tema de grande importância, tanto no âmbito organizacional quanto no âmbito social. Sendo assim, a pesquisa se baseou na teoria de Hofstede (1984) das dimensões culturais que entende a cultura como como uma espécie de “programação mental” em que o sujeito possui. Também na gestão de conflitos, ao qual aqui adotamos o modelo proposto por Rahim (1979), onde o autor propõe duas dimensões/eixos básicos: a preocupação com os próprios interesses e a preocupação com os interesses dos outros, e partir desses eixos identifica os estilos de gestão de conflito. Por último utilizamos o conceito de inteligência cultural que é entendida como um conjunto de competências que auxiliam o indivíduo a adaptar-se a situações culturais diversas (Van Dyne, Ang, & Livermore, 2010). O principal objetivo dessa investigação é analisar a relação entre as dimensões culturais, inteligência cultural e a escolha por um determinado estilo de gestão de conflitos entre os países Brasil e Portugal. A recolha de dados foi realizada através de um questionário online, originando 239 respostas. A amostra brasileira correspondeu a 56.9% e a portuguesa é constituída por 41.1%. Dentre os principais resultados citamos que não houve diferenças significativas entre Brasil e Portugal no que tange as dimensões culturais. Encontramos uma média ligeiramente mais alta na população portuguesa apenas na dimensão Motivacional. A dimensão Motivacional da Inteligência cultural de um modo geral previu significativamente e de forma positiva a escolha pelo estilo de gestão de conflitos Colaboração/Integração. Este estudo contribui significativamente para compreender as relações interculturais e a importância de considerar não apenas as dimensões culturais, mas também os contextos regionais.
  • Os vertebrados do período romano do vicus maritimus do cerro da vila (Vilamoura, Loulé)
    Publication . Pratas, Ana Isabel Martins Rosa Rocha; Valente, Maria João
    A província da Lusitania auferiu, pela sua posição geoestratégica e pelos seus recursos minérios, uma importância que foi crescendo ao longo dos séculos. Nela foram construídas e redimensionadas diversas cidades, entre elas a urbe administrativa de Ossonoba (Faro), na qual se circunscreve o vicus maritimus do Cerro da Vila. A presente dissertação tem como propósito a identificação, análise e interpretação das estratégias de consumo e exploração de animais vertebrados recuperados em contexto romano neste arqueossítio, e, simultaneamente, colmatar a carência investigacional referente à zooarqueologia que existe, e persiste, no Cerro da Vila desde a sua descoberta. Este objetivo será atingido através do estudo da coleção faunística que advém das escavações realizadas aquando da construção do edifício-museu, entre 1997-1998, e das campanhas arqueológicas inseridas no projeto “Corpus dos mosaicos romanos no sul de Portugal – Ocupação Rural no sul da Lusitânia”, efetuadas entre 2000-2003. O resultado alcançado, através da leitura dos dados, foi o da formulação de hipóteses e inferências relativas ao modo de vida da comunidade humana que habitou, em época Romana, o sítio arqueológico do Cerro da Vila. A reinterpretação das áreas anteriormente escavadas, juntamente com a determinação funcional de outros espaços construtivos, permitiu comprovar objetivamente que a villa alto-imperial transformou-se paulatinamente num povoado costeiro tardoantigo (vicus maritimus). A maioria de suínos e caprinos, juntamente com os abundantes restos de animais domésticos de médio e grande porte e a relevante presença de galinha, deramnos a informação de estarmos perante uma comunidade autossuficiente, cujos meios de subsistência assentavam na exploração de preparados piscícolas a par com a agropecuária. A maioria de animais adultos proporcionou o aproveitamento de bens secundários e de força motriz necessária às diversas atividades (tração e passeio). A par, a alimentação seria complementada pelo veado e pelo coelho (espécies mais caçadas) e por variada avifauna representativa do meio ambiente à época.
  • O impacto do salário emocional na avaliação do calor e da competência
    Publication . Gonçalves, Ianka Freitas; Gomes, Alexandra
    No contexto atual, a capacidade das organizações de atrair e reter talentos destaca-se como crucial, impulsionando um aumento significativo nas investigações nessa área. Este estudo propôs-se a examinar como a introdução de características de salário emocional em anúncios de emprego influenciam a formação de impressões por potenciais candidatos em amostra brasileira e portuguesa. Foram analisados dois tipos de anúncios: um convencional e outro que incorporava elementos de calor e competência. Os resultados mostram que, apesar de poder haver maior avaliação da competência por parte do candidato, o salário emocional melhora essencialmente á avaliação de calor, e por isso os candidatos têm maior intenção de resposta aos anuncios de emprego. A pesquisa em questão, no entanto, carrega consigo inerentes limitações, sublinhando a necessidade contínua de estudos adicionais neste domínio para aprimorar práticas de recrutamento e, consequentemente, potencializar a atração e retenção de talentos nas organizações.
  • Perfecionismo, imagem corporal e comportamento alimentar: estudo comparativo entre jovens-adultos com e sem prática de atividade física
    Publication . Vale, Elisabete Maria Matos do; Brás, Marta
    A apresentação de uma imagem perfeita é generalizada e muito valorizada na sociedade atual. O perfecionismo, pautado pela elevada autoexigência, busca de padrões ideais de desempenho ou de valorização pessoal, tem sido estabelecido como fator de risco e de manutenção de perturbações da imagem corporal e do comportamento alimentar, de acordo com a abordagem transdiagnóstica. A pressão atual para a perfeição e obtenção de estatuto social têm contribuído para um aumento significativo da prevalência destas perturbações, que apresentam como comportamentos compensatórios frequentes padrões disfuncionais de exercício físico. O presente estudo pretende analisar a relação entre o perfecionismo, a imagem corporal e a existência de comportamentos alimentares perturbados, em jovens-adultos com diferentes níveis de exercício físico. Participaram 226 jovens-adultos, de ambos os sexos, com idades entre os 18 e os 35 anos, que responderam à Escala Multidimensional de Perfecionismo, ao Questionário de Forma Corporal e ao Inventário de Perturbações do Comportamento Alimentar–2. Os resultados na amostra total evidenciam elevados níveis de perfecionismo socialmente prescrito e uma ligeira insatisfação com a imagem corporal. Os participantes do grupo com prática de exercício físico obtiveram valores médios significativamente mais elevados de Perfecionismo Orientado aos Outros e maior disfuncionalidade no Comportamento Alimentar (escala total e algumas subescalas), comparativamente aos que não praticam exercício físico. Estes resultados sugerem que os indivíduos que praticam exercício físico poderão beneficiar de intervenções direcionadas ao perfecionismo, mas sobretudo ao comportamento alimentar disfuncional. São discutidas as implicações práticas do estudo.
  • Contaminação mental na perturbação de stress pós-traumático: revisão sistemática
    Publication . Marques, Beatriz Estrela; Ros, Antónia
    A Contaminação Mental é uma sensação de sujidade ou poluição interna, acompanhada por emoções negativas, com origem numa fonte humana e que pode ser provocada por memórias e pensamentos acerca de situações consideradas traumáticas e ego distónicas, como é o caso da traição e abuso sexual. A Perturbação de Stress Pós-Traumático, também se associa a experiências traumáticas e apresenta um conjunto de sintomas semelhantes à Contaminação Mental. Existe evidência de que quer a Contaminação Mental, quer a Perturbação de Stress Pós-Traumático podem ocorrer em simultâneo, mas não é clara a forma como se relacionam. A presente revisão sistemática propôs-se a analisar: 1) a relação entre a Contaminação Mental e a Perturbação de Stress Pós-Traumático; 2) o papel do nojo na relação entre a Contaminação Mental e a Perturbação de Stress Pós-Traumático; 3) a relação entre a Contaminação mental e o Trauma; 4) o papel do nojo na relação entre a Contaminação mental e o Trauma; 5) se a relação entre a Contaminação mental e o Trauma, se limita a experiências traumáticas de cariz sexual. Foram pesquisados estudos nas bases de dados APA PsycINFO, Psychology and Behavioral Sciences Collection, Scopus, Web of Science, Mendline, PubMed, ProQuest Dissertations and Theses, Cochrane Library, APA PsycNet e Biblioteca Online da Universidade do Algarve. A revisão também incluiu literatura cinzenta extraída do Google Académico. A qualidade dos estudos foi verificada através do The Mixed Methods Appraisal tool, mantendo apenas os estudos de “Alta” qualidade. Incluíram-se um total de 21 estudos dos quais seis com uma metodologia randomizada, dez não randomizada e cinco descritiva, cujos resultados foram posteriormente divididos por objetivo de investigação e analisados. Os resultados permitiram verificar associações entre a Contaminação Mental e a Perturbação de Stress Pós-Traumático e entre a Contaminação Mental e o Trauma. O nojo associou-se à Contaminação Mental e à Perturbação de Stress Pós-Traumático, mas nada se pode concluir acerca do seu papel na relação entre a Contaminação Mental e a Perturbação de Stress Pós-Traumático e a Contaminação Mental e Trauma. A Contaminação Mental e o Trauma associaram-se a vários tipos de experiências traumáticas, não se tendo limitado esta associação às experiências traumáticas de caráter sexual. A presente revisão sistemática explorou o conhecimento existente acerca da associação entre a Contaminação mental e a Perturbação de Stress Pós-Traumático, e identificou mediadores desta relação, incluindo a tolerância a emoções negativas e comportamentos de evitamento, importantes a ter em conta em intervenções terapêuticas com indivíduos que apresentem comorbilidade de sintomas de Contaminação Mental e Perturbação de Stress Pós-Traumático. Também alerta para o facto de que o nojo, embora se associe de forma isolada à Contaminação mental e à Perturbação de Stress Pós-Traumático, possa não ser uma variável explicativa relevante para a relação estabelecida entre estes dois construtos, e entre a Contaminação Mental e o Trauma.
  • A disponibilidade emocional parental e o stress e o burnout académicos: o papel mediador da regulação emocional e da autoeficácia em estudantes universitários
    Publication . Sousa, Bárbara Helena Rodrigues; Almeida, Ana Susana
    Tendo em consideração o crescente número de alunos que sofrem de stress e burnout académico e atendendo à necessidade de combater os efeitos que estes problemas causam, considerou-se relevante explorar possíveis ligações entre estes problemas e variáveis que possam ser manipuladas, por forma a evitar ou diminuir as consequências negativas. Neste sentido, a presente investigação tem como principal objetivo a exploração da relação entre a disponibilidade emocional parental percecionada e o stress e o burnout académico, sendo esta relação mediada pelas crenças de autoeficácia e pela regulação emocional. Participaram neste estudo 357 alunos do ensino superior, com idades compreendidas entre os 18 e os 59 anos. A recolha de dados foi feita a partir de um formulário online composto por: (a) um questionário para recolha de dados sociodemográficos; (b) a Lum Emotional Availability of Parents, para a avaliação da disponibilidade emocional parental percecionada; (c) a Escala de Dificuldades de Regulação Emocional, para avaliar a regulação emocional; (d) a Perceived Stress Scale para avaliar os níveis de stress; (e) o Inventário de Burnout de Maslach para estudantes, para avaliar os níveis de burnout; (f) a Escala de Avaliação da Autoeficácia Geral, para avaliar as crenças de autoeficácia; e a (g) Escala de Desejabilidade Social de 20 itens, para avaliar a desejabilidade social, que serviu como variável de controlo. Os resultados sugerem que: (1) a disponibilidade emocional parental encontra-se negativamente associada às dificuldades de regulação emocional; (2) as dificuldades de regulação emocional encontram-se positivamente associadas ao stress e ao burnout académicos; (3) o stress encontra-se positivamente associado ao burnout académico; (4) a autoeficácia encontra-se negativamente associada ao burnout académico; (5) a disponibilidade emocional parental relaciona-se com o stress académico, através da mediação das dificuldades de regulação emocional; (6) a disponibilidade emocional parental associa-se ao burnout através do efeito mediador da autoeficácia e das dificuldades de regulação emocional. São apresentadas as limitações e as mais-valias, teóricas e práticas, deste estudo para a comunidade científica.
  • Use and abandonment: interpreting a mesolithic structure through faunal analysis (Cabeço da Amoreira shell midden, Muge)
    Publication . Filipe, Leonor Soares Carreiro Gonçalves; Gonçalves, Célia; Bonache, Anna Rufà
    As alterações climáticas do Holoceno marcaram o início de uma transição drástica nas estratégias de subsistência das comunidades humanas, alterando paisagens e criando novos nichos ecológicos que poderiam ser explorados e aproveitados. Na Europa, as últimas comunidades de caçadores-coletores demonstraram um crescente interesse na exploração de recursos aquáticos, como representado pela variedade e quantidade de concheiros encontrados em áreas costeiras e ribeirinhas ao longo da costa atlântica e do sul da Escandinávia (Gutiérrez-Zugasti, et al., 2011). Os concheiros de Muge (Salvaterra de Magos, Santarém) são um exemplo desse fenômeno e têm sido um dos grandes focos dos estudos mesolíticos em Portugal nos últimos 160 anos. Através de uma extensa coleção arqueológica, estes concheiros representam a complexa relação que as últimas comunidades de caçadores-coletores da bacia do Tejo tinham com sua paisagem e os recursos disponíveis. Depois de mais de um século e meio de investigação e múltiplas campanhas arqueológicas foi criada uma impressionante coleção arqueológica e paleoantropológica. Do ponto vista faunístico, uma longa lista taxonómica de mamíferos, anfíbios, répteis, aves, peixes e invertebrados, tem vindo a ser identificada. Estes foram objeto de vários estudos, como os de Lentacker (1986), Detry (2007), Pereira (2014) e Dias (2017). Em 2008 iniciou-se um projeto que instigou escavações arqueológicas anuais no concheiro do Cabeço da Amoreira, disponibilizando assim a oportunidade de estudos extensivos e comparativos, com o auxílio de novas metodologias colocadas em prática. As escavações em curso incluem atualmente georreferenciação da maioria (ver seção 3.1 Metodologia: Escavação e Materiais) dos materiais arqueológicos, o que fornece um amplo conhecimento sobre a distribuição especial de artefactos. Esses dados mostraram-se úteis na identificação de ações como o arrastamento de sedimentos (Aldeias & Bicho, 2016), acumulação de líticos (Belmiro, et al., 2020), eventos de deposição únicos, como a Feature A (Gonçalves, et al., 2018a). Após o trabalho de Pereira (2014) nos níveis mais altos do concheiro, e comparando com o extenso estudo das faunas em toda a estratigrafia por Detry (2007), visa-se compreender a história diacrônica deste sítio arqueológico através da análise de materiais provenientes dos níveis inferiores. Adicionalmente, beneficiando de novas metodologias de escavação e documentação dos últimos projetos que têm ajudado a identificar numerosos contextos bem definidos espacialmente estruturados, esta dissertação propõe a análise dos restos faunísticos da estrutura denominada de Feature C. Este estudo procura compreender a funcionalidade da estrutura, e testar como os dados espaciais podem ser essenciais para entender a distribuição faunística em nível intra-estrutura em relação a processos deposicionais e pós-deposicionais. O conjunto faunístico será analisado em termos anatómicos e taxonómicos, e será realizada uma análise tafonómica. É esperado que os dados recuperados desta análise poderão ser enquadrados dentro das estratégias de subsistência reconhecidas em estudos anteriores e explorar a utilização de certas espécies pela comunidade que habitava o amontoado de conchas. Além disso, visa-se compreender os processos pós-deposicionais pelos quais os restos faunísticos passaram, ilustrando o ambiente de abandono da Feature. A Feature C foi identificada dentro da camada 9 devido a uma aparente concentração de restos faunísticos, carvões e termoclastos nos quadrados de escavação A1 e B1 durante as campanhas de 2022 e 2023. Observações in situ sugeriam uma possível funcionalidade como estrutura de combustão, e ficou evidente através dos perfis que a estrutura se estendia para os quadrados A2 e B2 escavados em 2016 e 2018, respetivamente. Em A2 e B2, outras estruturas e depósitos tinham sido identificados (Feature Be Bone Cluster), mas uma relação entre os mesmos não tinha sido identificada. Tronou-se evidente graças a documentação das intervenções anteriores que a Feature C, Feature B e o Bone Cluster eram um único contexto. Como estes depósitos não tinham sido inicialmente identificados como partes de uma estrutura de combustão nem mesmo relacionados entre si até a terceira campanha arqueológica (2022), os materiais das campanhas anteriores tiveram de ser reanalisados seguindo os parâmetros do estudo atual (ver Capítulo 3. Metodologia), e análises espaciais foram realizadas para compreender o relacionamento entre os depósitos identificados, bem como estabelecer o tamanho total da estrutura. Além disso, uma vez que todos os quadrados mencionados foram individualmente escavados, os artefactos exumados poderiam ter sido suscetíveis à degradação dos perfis arqueológicos. Consequentemente, a análise espacial também é importante para entender o grau de erosão que poderia ter afetado a Feature e como isso poderia ter afetado a distribuição de artefactos. Esta estrutura, como possível estrutura de combustão, permitirá novas interpretações sobre o consumo animal nos níveis inferiores do concheiro e demonstrará a eficácia das novas metodologias na recontextualização de materiais durante o trabalho de laboratório. Com os dados coletados, o objetivo é identificar um padrão de consumo animal que possa integrar ou diferir das estratégias de subsistência previamente estudadas do local; bem como, compará-la com outras estruturas identificadas neste sítio arqueológico. Além disso, espera-se que a análise faunística realizada forneça informações valiosas em termos de tafonomia – permitindo que um segundo objetivo seja alcançado: a identificação de agentes acumuladores não humanos e a representação da história pós-deposicional da estrutura. Os resultados são comparados com análises faunísticas anteriores para enriquecer as descobertas deste estudo, pois uma abordagem comparativa ajudará a obter uma perspetiva mais ampla sobre o conjunto faunístico e alcançar uma perspetiva diacrónica da ocupação do local e do uso destas estruturas. Esses objetivos permitiram uma melhor compreensão das mudanças comportamentais ao longo do tempo e mostrarão como os restos faunísticos podem ser cruciais para entender a história da acumulação e pós-deposicional das estruturas arqueológicas, iluminando os papéis desempenhados por agentes antrópicos, carnívoros e naturais, que influenciam este sítio. Este estudo reforçou os dados paleoecológicos já conhecidos e descobriu dois possíveis momentos de atividade dentro da estrutura: um primeiro de origem antrópica (o uso do recurso), que fornece dados dietéticos, e o abandono da estrutura pelos humanos, evidenciado pela extensa atividade carnívora. Através desses objetivos, esperamos contribuir para uma compreensão mais profunda das relações entre as comunidades humanas mesolíticas e seu ambiente, bem como os processos de preservação e alteração que moldaram o registo arqueológico no Cabeço da Amoreira.