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Em Espanha, a memória colectiva preservou um texto dialogado de assunto
anticlerical e de estilo muito castiço e tradicional. Trata-se de um jogo infantil que,
com aparente ingenuidade, converte em actores os dedos polegar, médio e mindinho
da própria mão. Estes três dedos representam um clérigo luxurioso, uma dama (que
ele visita e aceita os seus favores) e uma criada, que protesta por esses encontros,
tentando salvar a honra do patrão.
Num manuscrito da segunda década do séc. XVII, existe um longo texto (que,
por indicações que se dão no começo, parece que deveria ser cantado), o qual
apresenta o mesmo assunto e as mesmas personagens do referido jogo infantil.
Portanto, mais uma vez, a tradição oral salvou do esquecimento uma obra literária,
que, convenientemente transformada e reduzida ao essencial, chegou até nós dentro
do amplo e heterogéneo mundo da literatura oral para uso das crianças.