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Authors
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Abstract(s)
Foi um prazer ler o último
romance de Lídia Jorge, editado
em março último, pela
Dom Quixote.
E as razões foram muitas.
Porque fala de um dia da
nossa história que me diz
bastante: o 25 de abril de
1974. Apesar de ter dele apenas
uma vaga ideia, foi sendo
sempre falado na minha
família e faz parte do meu
presente.
Porque reconheço grande
parte da história ali contada,
fazendo-me sentir cúmplice,
quer do texto, quer dos
acontecimentos.
Porque o romance é um
género que faz falta para
contar a História. É um modo
de chegar a muito mais gente
que, depois de o ler (ou enquanto
o vai lendo), vai ter
vontade de ir procurar os
outros livros – os de História
não romanceada – para
aprender sobre as horas daquela
noite de 24 para 25 e
sobre os seus protagonistas.
Apesar da «transfiguração literária
», como se lê na nota
de edição, quem sabe se não
os reconhecerá?
E saltando muitas outras
razões, porque é um livro
muito bem escrito. As pontas
que vão sendo soltas ao
longo da narrativa juntam-se
em outros momentos, completando
quadros de sentido.
Ana Maria Machada, a narradora,
como participante da
história, sabe tanto como nós
sobre o que pensam as outras
personagens, mas sabe um
bocadinho mais do que, em
certos momentos, conta. Por
exemplo, quando a equipa
de reportagem entrevista a
viúva de um dos capitães de
Abril (que percebemos ser
Salgueiro Maia, apesar de
apenas ser referido pela sua
«alcunha doméstica», isto é,
pelo nome que a mãe de Ana
Maria lhe dera: Charlie 8) e
tenta conseguir que esta diga
quem queria mal ao marido,
perante a relutância em acusar
alguém, a «Machadinha»
afirma «Nós sabíamos, mas
não tão bem como ela, que as
vinganças de que foram vítimas
ele e os outros como ele,
tinham tido autores concretos,
nomeáveis,
intérpretes e responsáveis,
colocados no topo das
estruturas criadas num país
onde passara a haver liberdade
para legitimar tudo e o
seu contrário» (p. 249).