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Reveladora de uma forte consciência histórica, a obra autobiográfica de José Gomes Ferreira (1900-1985) elege I República como matriz do século XX português, ciente, em todo o caso, que lhe cabe sobretudo escrever «para a eternidade efémera da História dos Momentos Ignorados». Em A Memória das Palavras (1965) e Revolução Necessária (1975), é particularmente notória a forma como situa a raiz do fascínio revolucionário no espaço nacional e lisboeta da sua aprendizagem infantil, em detrimento do exemplo mais previsível, a Revolução Russa de 1917. Dessa forma assume a filiação jacobina das barricadas, sedimentada nas leituras literárias do romantismo social e na admiração pelo pai, que foi político republicano e maçónico empenhado.
Ao fazer da História matéria autobiográfica, José Gomes Ferreira não apenas recorta a formação pessoal dentro da história familiar e colectiva. Também alinha deliberadamente na valorização ideológica da I República e, por extensão, do liberalismo oitocentista levada a cabo, desde os anos 40, no campo da Historiografia e dos Estudos Literários, para responder ao anátema lançado pelo salazarismo sobre esses períodos históricos. Gomes Ferreira exerce, portanto, a resistência no campo cultural por meio do exercício de memória na primeira pessoa. Quando chega o 25 de Abril (a que chama II República), tempera o entusiasmo de o viver com a lucidez da sua já longa viagem pelo século, sempre à espera de voltar a presenciar a vibração livre da multidão nas ruas. Pressente o esquecimento progressivo da I República em benefício de um novo marco revolucionário, sabendo-se testemunha exaltada e melancólica de revoluções, da sua força construtiva e dos seus desfechos magoados.
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Memória histórica I República Revolução José Gomes Ferreira 25 Abril 1974