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Authors
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Abstract(s)
A galheta, ou corvo-marinho-de-crista Gulosus aristotelis é uma ave marinha residente em
Portugal Continental, especialmente em habitats costeiros. Apesar de ser uma espécie com uma
ampla distribuição na Europa, a menor densidade populacional em Portugal torna-a classificada
como espécie vulnerável a nível nacional. O núcleo reprodutor mais importante localiza-se no
Arquipélago das Berlengas, onde se estima que existam mais de 60 casais. Porém estas aves
apresentam outras populações mais ao sul do país, como em Sagres e Sesimbra. Para além dos
elevados valores de conservação com a criação de Áreas Marinhas Protegidas (AMP's), a costa
portuguesa é também um importante local de actividades antropogénicas como a pesca
comercial e o turismo, o que torna a interacção entre humanos e aves mais expressiva e
perigosa. Estudos baseados na composição da dieta dos principais predadores, como as aves
marinhas, podem indicar a qualidade do ambiente, dando uma resposta indireta da riqueza, a
abundância de espécies, a relação entre a composição do habitat e as espécies. Para investigar
a dieta alimentar da galheta ao longo da costa, foram seleccionadas três Áreas Marinhas
Protegidas (AMP), nomeadamente a Reserva Natural das Berlengas, o Parque Marinho da
Arrábida e o Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina. O objectivo geral do
presente trabalho foi caracterizar a dieta das populações de galhetas em três locais designados
como AMP na costa portuguesa e avaliar se a dieta da população nacional apresenta uma
variação espacial ao longo da sua distribuição. Para isso, foi realizada (i) a análise morfológica
e molecular da dieta por meio da coleta de regurgitações / egagrópilas; (ii) a comparação de
possíveis variações espaciais da dieta associadas a diferentes habitats e, (iii) a caracterização
da comunidade de peixes presente em cada área. Das 25 espécies consumidas pelas galhetas,
75% foram encontradas na dieta da subpopulação das Berlengas, sendo considerada a dieta
mais diversa comparativamente às outras duas. Apesar da grande riqueza, 57% da biomassa
total encontrava-se na Arrábida. As principais presas da dieta em geral foram a galeota
Ammodytidae, o peixe-rei Atherina presbyter e espécies da família Labridae. Este resultado
corroborou os estudos anteriores realizados sobre a população de galhetas no Atlântico Norte
e na Península Ibérica, os quais revelaram uma plasticidade na dieta da galheta, sendo a galeota
(Ammodytidae) a presa mais numerosa e frequente. A respeito da variação espacial, o presente
estudo não apontou diferenças estatisticamente relevantes na composição de presas. Porém, foi
possível observar que Ammodytidae foi o grupo mais abundante (63,2%) na dieta da população da Arrábida, enquanto nas Berlengas foi Atherina presbyter o peixe-rei (25%) e em Sagres
foram os sargos Diplodus sp (33%) e o peixe-rei Coris julis (22,2%). Esta variação pode ser
reflexo da diferente disponibilidade de presas em locais distintos. A contribuição de biomassa
e o tamanho médio dos indivíduos das quatro espécies mais representativas variaram:
Ammodytidae teve a sua maior biomassa e tamanho médio registados na Arrábida, enquanto
nas Berlengas foram a piarda, o peixe-rei e o peixe-aranha Echiichthys vipera. Estes resultados
são típicos de uma espécie com comportamento oportunista e generalista, com uma dieta de
grande plasticidade variando de presas demersais a pelágicas. Devido à pequena amostra,
Sagres não foi considerada fiável em termos comparativos e a sua abundância e diversidade de
espécies parecem ter sido subestimadas. Apesar disso, uma experiência piloto com barcoding
confirmou a presença de peixe-rei na dieta da subpopulação de Sagres. Apesar da galeota ter
sido em geral a presa com maior importância relativa na dieta da população das galhetas em
Portugal, nas Berlengas este não foi o grupo predominante, mas sim o peixe-rei, um pequeno
peixe pelágico. Este resultado contrasta com estudos realizados em anos anteriores. Apesar de
não ter sido testado estatisticamente, sugerimos a hipótese de que possa haver uma variação
interanual na disponibilidade de presas. Esta flutuação interanual já foi registada no Atlântico
Norte e Península Ibérica, onde há três décadas o consumo de galeotas pelas aves vem sendo
reduzido, enquanto o consumo de Gadidae, Gobidae e Labridae aumentaram. Já se sabe que a
disponibilidade de presas varia sazonalmente ao longo do ciclo anual das espécies-presa, mas
com as mudanças climáticas e a sobrepesca, a tendência é que a disponibilidade de presas seja
continuamente alterada, e as dinâmicas das aves sejam afetadas a longo prazo. Numa
perspectiva de curto prazo, são esperadas mudanças no comportamento alimentar (por
exemplo, substituições na preferência das presas, uso da pesca para detectar maiores
abundâncias de presas) e sucesso reprodutivo das aves devido às variações sazonais na
disponibilidade das presas. A longo prazo, as mudanças na distribuição das presas e baixo
recrutamento de galeotas e pequenos peixes pelágicos, devido à pesca excessiva e mudanças
ambientais, tendem a reduzir drasticamente as populações de predadores, a nível global.
A captura acidental em artes de pesca é outra ameaça que tem vindo a afectar
significativamente a sobrevivência de diversas populações de aves marinhas, incluindo a
galheta. Neste estudo foi registada a presença de um material semelhante a linha de pesca
numa única amostra, indicando que em Portugal também esta população se encontra vulnerável
a tal ameaça. Apesar de ser apenas um registo, estudos continuados e detalhados são
necessários para analisar se há um aumento no efeito potencial das interações entre galhetas e
a pesca comercial. O nosso estudo é o primeiro a descrever a composição da dieta da galheta na Arrábida e a fornecer informações preliminares sobre a dieta em Sagres. A alta contribuição,
em geral, da galeota e do peixe-rei coincide com os registos anteriores em populações do
Atlântico Norte e Peninsula Ibérica. Assumindo que as dietas das populações de galhetas no
Mediterrâneo são compostas pelas famílias Labridae e Trachinidae, existe a possibilidade de
que as populações mais ao sul de Portugal tenham um padrão alimentar semelhante às do
Mediterrâneo. De forma a aprofundar a posição trófica destas populações localizadas
geograficamente numa zona intermédia é imprescindível que que se mantenha a monitorização
e análise das dietas destas populações, incidindo ao longo de todo o ciclo reprodutor da galheta
em anos sucessivos, a fim de verificar possíveis mudanças temporais na disponibilidade de
presas e as suas consequências para a dinâmica das populações da galheta. Sabendo que a
identificação por otólitos está sujeita a erros devido aos seus processos erosivos e ao seu
tamanho reduzido, uma abordagem holística considerando também DNA barcoding parece ser
uma estratégia para tentar superar esse obstáculo.
The European Shag Gulosus aristotelis is a seabird resident in mainland Portugal. The diet composition of shags and its spatial variation among marine protected areas (the Berlengas Nature Reserve, the Marine Park of the Arrábida Natural Park and the Southwest Alentejo and Costa Vicentina Natural Park) were studied through morphological and molecular analysis of regurgitated pellets. A total of 29 fish species were identified, with 75% of them present in the Berlengas. Despite the great richness of Berlengas, 57% of the total biomass was comprised in Arrábida. The major prey of the diet were sand eels Ammodytidae, sand smelt Atherina presbyter and species from the Labridae family. Sand eels were the most abundant (63.2%) in the diet at Arrábida, while in the Berlengas it was sand smelt (25%) and in Sagres were Diplodus sp (33%) and Mediterranean rainbow wrasse Coris julis (22,2%). The biomass contribution and mean size of the four most representative species varied: Ammodytidae had its highest biomass and mean size recorded in Arrábida, while Berlengas had the largest sand smelt, Mediterranean rainbow wrasse and the lesser wrasse Echiichthys vipera. Our study characterised the shag as opportunistic, with a broad plasticity diet ranging from demersal to pelagic species. Due to the small sample size from Sagres, species abundance and diversity were underestimated and not comparable, but a pilot test using DNA barcoding confirmed Mediterranean rainbow wrasse there. This is the first description of diet composition of the European shag in Arrábida and preliminary information about it in Sagres. The high contribution of sand eels and sand smelt coincides with previous records in North Atlantic populations. Assuming that the diets of shag populations in the Mediterranean are composed of Labridae and Trachinidae families, we raise the hypothesis that the southernmost shags of Portugal have a feeding pattern similar to the Mediterranean ones.
The European Shag Gulosus aristotelis is a seabird resident in mainland Portugal. The diet composition of shags and its spatial variation among marine protected areas (the Berlengas Nature Reserve, the Marine Park of the Arrábida Natural Park and the Southwest Alentejo and Costa Vicentina Natural Park) were studied through morphological and molecular analysis of regurgitated pellets. A total of 29 fish species were identified, with 75% of them present in the Berlengas. Despite the great richness of Berlengas, 57% of the total biomass was comprised in Arrábida. The major prey of the diet were sand eels Ammodytidae, sand smelt Atherina presbyter and species from the Labridae family. Sand eels were the most abundant (63.2%) in the diet at Arrábida, while in the Berlengas it was sand smelt (25%) and in Sagres were Diplodus sp (33%) and Mediterranean rainbow wrasse Coris julis (22,2%). The biomass contribution and mean size of the four most representative species varied: Ammodytidae had its highest biomass and mean size recorded in Arrábida, while Berlengas had the largest sand smelt, Mediterranean rainbow wrasse and the lesser wrasse Echiichthys vipera. Our study characterised the shag as opportunistic, with a broad plasticity diet ranging from demersal to pelagic species. Due to the small sample size from Sagres, species abundance and diversity were underestimated and not comparable, but a pilot test using DNA barcoding confirmed Mediterranean rainbow wrasse there. This is the first description of diet composition of the European shag in Arrábida and preliminary information about it in Sagres. The high contribution of sand eels and sand smelt coincides with previous records in North Atlantic populations. Assuming that the diets of shag populations in the Mediterranean are composed of Labridae and Trachinidae families, we raise the hypothesis that the southernmost shags of Portugal have a feeding pattern similar to the Mediterranean ones.
Description
Keywords
Feeding ecology Marine protected area Otolith Seabird DNA