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Authors
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Abstract(s)
O conhecimento da fisiologia digestiva de larvas de peixes marinhos ao longo do
seu desenvolvimento é crucial para compreender as capacidades digestivas das
espécies, e assim permitir a sua produção em aquacultura.
O sargo, Diplodus sargus, e o linguado, Solea senegalensis, são duas espécies
de elevado valor económico e com potencial de cultivo, sendo por isso importante
estudar aspectos relacionados com a sua fisiologia digestiva. Com este trabalho
pretendeu-se estudar a influência do alimento inerte na capacidade digestiva do sargo
e do linguado, através da quantificação da actividade de diferentes enzimas digestivos.
No caso do sargo, analisou-se o efeito de uma adaptação precoce ao alimento inerte,
ao introduzir-se a dieta aos 20 dias após a eclosão (DAE; W20) e comparando com o
tratamento em que a dieta foi introduzida aos 27 DAE (W27; normal/controlo). No caso
do linguado avaliou-se a estratégia de adaptação ao alimento inerte, nomeadamente
uma adaptação súbita – tratamento SW – ou uma co-alimentação durante 5 dias –
tratamento CF –, ambos com início aos 30 DAH.
No caso do sargo consideram-se duas fases experimentais. Na primeira fase
que decorreu até aos 20 dias, analisou-se o padrão da actividade enzimática ao longo
do desenvolvimento das larvas. Na segunda fase, avaliou-se o efeito de uma
adaptação precoce ao alimento inerte nos enzimas digestivos durante 3 semanas,
terminando o ensaio aos 41 e 48 DAE, respectivamente, para o tratamento W20 e
W27. O plano alimentar consistiu em rotíferos (4-26 DAE), Artemia naupli (13-19 DAE),
Artemia metanaupli (16-26 DAE para o tratamento W20 e 16-33 DAE para o
tratamento W27) e alimento inerte (20-41 DAE para o tratamento W20 e 27-48 para o
tratamento W27).
Em relação ao linguado, o período experimental decorreu entre os 30 e 60 DAE
consistindo o plano alimentar em Artemia (30-34 DAE para o tratamento CF) e
alimento inerte (30-60 DAE).
No caso do sargo, realizaram-se amostragens aos 0, 2, 9, 13 e 20 DAE para
caracterizar o padrão de actividade digestiva. Enquanto no ensaio de adaptação ao
alimento inerte, realizaram-se amostragens no início da adaptação, uma e três
semanas após a introdução do alimento inerte. Em relação ao linguado, efectuaram-se
amostragens aos 30, 35, 40, 50 e 60 DAE pós-larvas de linguado.
No sargo analisou-se a tripsina, a amilase, a pepsina, a lipase, a fosfatase
alcalina, a leucina-alanina peptidase, a aminopeptidase e a fosfatase ácida. No
linguado apenas foi analisado a tripsina, amilase, pepsina, fosfatase alcalina,
aminopeptidase e leucina-alanina peptidase. Os dados da actividade enzimática foram
apresentados como actividade específica: U mg protein−1 e actividade total: U larva−1.
iv
A actividade enzimática foi determinada em diferentes segmentos, ao longo do
desenvolvimento larvar. No sargo, até aos 20 DAE utilizou-se todo o corpo da larva
para a análise enzimática, enquanto as larvas mais velhas foram dissecadas a fim de
se obter a porção abdominal. No linguado, até aos 40 DAE as pós-larvas foram
dissecadas obtendo-se a porção abdominal, enquanto nas idades posteriores as póslarvas
foram dissecadas para se obter o segmento pancreático e o intestinal, o qual foi
ainda utilizado para obter o prato estriado do intestino.
As larvas de sargo apresentaram um crescimento exponencial tanto em peso
como em comprimento. Até aos 20 DAE as actividades específicas da tripsina,
fosfatase alcalina, leucina-alanina peptidase, aminopeptidase e fosfatase ácida
aumentaram significativamente, enquanto as actividades específicas da pepsina,
amilase e lipase mantiveram-se relativamente constantes. As actividades da lipase e
leucina-alanina só foram detectadas aos 9 DAE. A actividade da pepsina teve o maior
valor de actividades aos 0 DAE mas aos 2 DAE não se detectou actividade. A
actividade total dos enzimas estudados aumentou significativamente até aos 20 DAE.
No ensaio de adaptação ao alimento inerte, as larvas de sargo do tratamento
W27 comparativamente às larvas do tratamento W20 apresentaram um maior
crescimento em peso e comprimento e uma sobrevivência superior. Três semanas
após a introdução do alimento inerte no plano alimentar do sargo, as larvas do
tratamento W20 apresentavam uma tendência em ter uma actividade enzimática
superior, embora sem apresentarem diferenças significativas entre os tratamentos.
Neste mesmo período, as larvas do tratamento W20 comparativamente com as larvas
do tratamento W27 apresentaram no prato estriado uma maior actividade específica
da aminopeptidase. A actividade total dos enzimas estudados aumentou
significativamente até ao final da experiência, sendo significativamente maior nas
larvas do tratamento W27. No entanto, analisando o aumento relativo da actividade
dos enzimas digestivos, observou-se que as larvas do tratamento W20 exibiram um
aumento relativo após as três semanas da introdução do alimento inerte no plano
alimentar. Três semanas após a introdução do alimento inerte não se observaram
diferenças significativas no índice de maturação dos enterócitos para ambos os
tratamentos.
Em relação ao linguado, as pós-larvas do tratamento SW comparativamente às
pós-larvas do tratamento CF apresentaram um maior crescimento em peso e
comprimento e uma sobrevivência superior. As actividades específicas da tripsina,
fosfatase alcalina e leucina-alanina peptidase decresceram até aos 40 DAE, enquanto
as actividades específicas da amilase, pepsina e aminopeptidase se mantiveram
relativamente constantes até os 40 DAE. A esta idade não existiram diferenças
v
significativas entre as actividades específicas dos tratamentos. As actividades
específicas determinadas no prato estriado decresceram até aos 40 DAE, mas sem se
observarem diferenças significativas entre os tratamentos. A actividade total até aos
40 DAE teve uma tendência decrescente mas sem diferenças estatísticas entre os
tratamentos. Considerando a fosfatase alcalina, aos 40 DAE a percentagem de
maturação dos enterócitos é significativamente superior nas larvas do tratamento SW.
Aos 60 DAE não ocorreram diferenças significativas nas actividades específicas
dos enzimas entre os tratamentos do linguado. Os valores de actividade total
analisados no pâncreas e intestino mantiveram-se quase inalterados entre as duas
idades e tratamentos analisados. Aos 60 DAH não ocorreram diferenças significativas
entre tratamentos relativamente à percentagem de maturação dos enterócitos.
O padrão de actividade dos enzimas digestivos estudados no sargo esteve
relacionado com a organogénese e o tipo de alimento usado nos diferentes estados de
desenvolvimento. Este estudo permitiu verificar que antecipando a introdução do
alimento inerte no plano alimentar das larvas de sargo, neste caso aos 20 DAE, a
capacidade digestiva não é afectada, uma vez que as larvas no final do período
experimental apresentavam níveis de actividade enzimática semelhantes aos
apresentados pelas larvas do tratamento W27.
A actividade enzimática no linguado não foi afectada pelo tipo de desmame e,
quando o foi, no final do período experimental o nível de actividade enzimática era
semelhante para ambos os tipos de desmame. O método de desmame mais
ambicionado pela indústria é o desmame súbito já que permite uma redução na
utilização de alimento vivo. Neste estudo o tipo de desmame que menos afectou
fisicamente as pós-larvas foi o desmame súbito, mas os resultados não permitem
concluir que este seja o melhor método, já que ambas as estratégias alimentares
produziram fracos resultados. O decréscimo observado na actividade enzimática total
reflectiu a baixa condição física exibida pelas pós-larvas de ambos os tratamentos.
Description
Dissertação mest., Aquacultura e Pescas, Universidade do Algarve, 2008
Keywords
Teses Piscicultura Alimentação Enzimas digestivas Capacidade digestiva Sargo Linguado