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Abstract(s)
Bottom trawling for crustaceans in Portuguese coastal waters constitutes a rather important fishery in revenue terms, despite its clear negative impacts on deep-sea communities and marine ecosystems. This poorly selective harvest strategy catches large amounts of unwanted species that are thrown overboard for various reasons. However, survival of discards is not yet properly assessed and constitutes an essential parameter for the upcoming landing obligation, with an exemption for species with “high survival”. In this work, time-to-mortality and a vitality assessment were used to estimate immediate mortality and identify important biological characteristics on the susceptibility of a group of 14 by-catch species, most with commercial interest (Conger conger, Galeus melastomus, Helicolenus dactylopterus, Lepidorhombus boscii, Lophius budegassa, Lophius piscatorius, Merluccius merluccius, Micromesistius poutassou, Mullus surmuletus, Phycis blennoides, Scyliorhinus canicula, Trigla lyra, Trachurus trachurus and Trachurus picturatus). Only S. canicula and C. conger were identified as species with potential to survive after the discarding process. Present results on time-to-mortality show significant differences when comparing individual sizes for some species, with smaller individuals dying faster than larger ones. Furthermore, species with scales, gas bladder and high metabolic rates are more vulnerable to die after being discarded. A short captive observation experiment with C. conger was conducted, with 84% survival after 65 hours of monitoring. However, this survival rate is likely to be overestimated due to two facts: 1) the mortality rate did not stabilize at the end of the experiment; and 2) the majority of individuals showed severe injuries (scratches, bruises and deep wounds). These outcomes can help to identify species that will likely survive the discarding process, factors influencing its survival and provide reliable estimates of unaccounted fishing mortality, essential for stock management and conservation.
O arrasto de fundo é uma das artes de pesca mais comum em todo o mundo, apesar dos seus impactos destrutivos: desde modificações na morfologia dos fundos marinhos e ressuspensão de sedimentos a alterações nos ciclos de nutrientes e biodiversidade em águas profundas. Devido à sua natureza não selectiva, as redes de arrasto capturam grandes quantidades de espécies não desejadas que são posteriormente rejeitadas, no caso de não terem valor comercial, quota ou outras restrições legislativas (tamanhos mínimos legais, limites de percentagem de espécies não-alvo). De modo a evitar este problema, uma obrigação de desembarque tem vindo a ser implementada com a reforma da Política Comum de Pescas, que força os pescadores a manter a bordo e descarregar todas as espécies que possuem uma quota (ou total admissível de captura). No entanto, existem várias excepções a esta legislação. Uma delas é para espécies com ‘elevada sobrevivência’, que podem continuar a ser rejeitadas desde que haja evidências científicas que suportem esta decisão, daí a importância de averiguar a sobrevivência das rejeições. A frota de arrastões de marisco em Portugal tem como espécies-alvo o lagostim (Nephrops norvegicus), a gamba-branca (Parapenaeus longirostris) e o camarão-vermelho (Aristeus antennatus), operando sobretudo ao largo dos canhões de Lagos, Portimão e Faro. Este segmento da frota representa menos de 4 % do total de licenças de pesca, mas os crustáceos capturados são o grupo mais caro, atingindo preços de 16 euros por kg em 2016. Contudo, a taxa de rejeição de pescado aproxima-se dos 70 %, com mais de 90 espécies de vertebrados e invertebrados. Vários projectos dedicados ao estudo das rejeições têm vindo a ser realizados, com foco na identificação de espécies, quantificação das taxas de rejeição e impactos ecológicos e económicos. Estratégias de mitigação como diminuição do comprimento do saco da rede e sistemas de grelhas selectivas foram testadas, mas apenas as grelhas demonstraram eficiência em reduzir a captura de peixe não desejado, sem afectar significativamente a captura de crustáceos. Um aumento do tamanho da malha no saco de 55 para 70 mm também produziu resultados significativos em termos de redução de pescado rejeitado. No entanto, nenhuma destas alterações técnicas foi adaptada pelos pescadores, devido a possíveis impactos económicos. Artes de pesca estáticas como armadilhas para lagostim e gamba têm vindo a ser investigadas como alternativa ao arrasto de fundo, pois produzem reduzidos impactos nos habitats marinhos e quase nenhum pescado é rejeitado. Quanto à sobrevivência das rejeições, experiências com espécies não desejadas de peixe e caranguejos pescados com ganchorra mostraram taxas de sobrevivência entre 54% e 81% após 48 horas em cativeiro. No cerco, 20% a 80% da sardinha sobreviveu após a captura e durante um mês em tanques. No arrasto de fundo, apenas estudos com lagostim foram concretizados, com taxas de sobrevivência entre 13% e 60%, mas nenhum sobre espécies rejeitadas. Há três metodologias principais que podem ser usadas na investigação da sobrevivência: estudos de vitalidade; observação em cativeiro; e estudos de marcação-recaptura ou biotelemetria. Escalas de vitalidade e indicadores como tempo-para-mortalidade podem ser aplicados para avaliar a sobrevivência imediata. Apesar de não conseguirem prever mortalidade após rejeição, estes métodos são simples de aplicar e fornecem informação relevante para um elevado número de espécies. A observação em cativeiro consiste na captura de animais selvagens que, antes de serem rejeitados, são transferidos para tanques ou outras instalações e monitorizados durantes dias até semanas. Idealmente, a experiência de sobrevivência deve prolongar-se até a taxa de mortalidade estabilizar. Esta metodologia implica maiores custos e logística quando comparada com a anterior. No entanto, permite estimar de forma mais fiável a taxa de sobrevivência e fazer inferências acerca da sobrevivência a longo-prazo após rejeição. Este trabalho está dividido em duas partes: 1) estudo das susceptibilidades das espécies rejeitadas; 2) experiência de sobrevivência a curto prazo com congro (Conger conger). Ambas foram realizadas a bordo de um arrastão em pesca comercial. No primeiro, foram usados indicadores de sobrevivência imediata para um grupo de 14 espécies: escalas de vitalidade com 4 categorias, desde excelente estado a moribundo; tempo-para-mortalidade, ou tempo até o animal não apresentar qualquer sinal de vida, quando exposto ao ar; e registo de vários tipos de lesões externas, como perda de escamas, arranhões ou feridas expostas. Estes indicadores permitem distinguir espécies com potencial de sobrevivência. Porém, a avaliação da vitalidade necessita de ser adaptada às particularidades de cada espécie, sobretudo a animais de profundidade que possuem estratégias de conservação de energia quando em situações de stress extremo. Foram também identificadas características biológicas que determinam a vulnerabilidade destas espécies: tamanho do animal, bexiga-natatória, escamas e taxa metabólica. Para algumas espécies, o tamanho dos indivíduos representou um factor relevante, pois animais mais pequenos são mais vulneráveis e morrem mais rapidamente do que animais de maiores dimensões. Para além disso, espécies com escamas, bexiga-natatória e taxas metabólicas elevadas também são menos resistentes e têm reduzidas hipóteses de sobreviverem após rejeição. Apenas duas espécies surgiram como candidatas a estudos mais pormenorizados para averiguar o seu potencial de sobrevivência: pata-roxa (Scyliorhinus canicula) e congro ou safio (Conger conger). Assim, na segunda parte deste estudo, 84% dos congros sobreviveram após 65 horas de monitorização. Contudo, esta taxa de sobrevivência está sobrestimada devido a duas problemáticas: a mortalidade não estabilizou no final do período de observações, ou seja, se a experiência tivesse sido mais prolongada, ainda iria registar-se maior mortalidade; e cerca de 70% dos animais apresentaram lesões externas severas, o que coloca sérias questões acerca da sua recuperação e sobrevivência após rejeição. Para estudos futuros, recomenda-se experiências de sobrevivência mais prolongadas, em tanques em terra, de modo a evitar os problemas de espaço e logística que implicam trabalhar num navio. As metodologias escolhidas neste trabalho limitaram as conclusões obtidas, mas ao mesmo tempo implicaram uma estratégia de obter informação nova e importante, com baixo custo, que pode ser usada como ponto de partida para outros projectos. Estes resultados identificaram espécies que poderão sobreviver após a sua rejeição, factores que influenciam a sua sobrevivência e estimativas de mortalidade provocadas pela pesca que são essenciais à gestão e conservação das populações.
O arrasto de fundo é uma das artes de pesca mais comum em todo o mundo, apesar dos seus impactos destrutivos: desde modificações na morfologia dos fundos marinhos e ressuspensão de sedimentos a alterações nos ciclos de nutrientes e biodiversidade em águas profundas. Devido à sua natureza não selectiva, as redes de arrasto capturam grandes quantidades de espécies não desejadas que são posteriormente rejeitadas, no caso de não terem valor comercial, quota ou outras restrições legislativas (tamanhos mínimos legais, limites de percentagem de espécies não-alvo). De modo a evitar este problema, uma obrigação de desembarque tem vindo a ser implementada com a reforma da Política Comum de Pescas, que força os pescadores a manter a bordo e descarregar todas as espécies que possuem uma quota (ou total admissível de captura). No entanto, existem várias excepções a esta legislação. Uma delas é para espécies com ‘elevada sobrevivência’, que podem continuar a ser rejeitadas desde que haja evidências científicas que suportem esta decisão, daí a importância de averiguar a sobrevivência das rejeições. A frota de arrastões de marisco em Portugal tem como espécies-alvo o lagostim (Nephrops norvegicus), a gamba-branca (Parapenaeus longirostris) e o camarão-vermelho (Aristeus antennatus), operando sobretudo ao largo dos canhões de Lagos, Portimão e Faro. Este segmento da frota representa menos de 4 % do total de licenças de pesca, mas os crustáceos capturados são o grupo mais caro, atingindo preços de 16 euros por kg em 2016. Contudo, a taxa de rejeição de pescado aproxima-se dos 70 %, com mais de 90 espécies de vertebrados e invertebrados. Vários projectos dedicados ao estudo das rejeições têm vindo a ser realizados, com foco na identificação de espécies, quantificação das taxas de rejeição e impactos ecológicos e económicos. Estratégias de mitigação como diminuição do comprimento do saco da rede e sistemas de grelhas selectivas foram testadas, mas apenas as grelhas demonstraram eficiência em reduzir a captura de peixe não desejado, sem afectar significativamente a captura de crustáceos. Um aumento do tamanho da malha no saco de 55 para 70 mm também produziu resultados significativos em termos de redução de pescado rejeitado. No entanto, nenhuma destas alterações técnicas foi adaptada pelos pescadores, devido a possíveis impactos económicos. Artes de pesca estáticas como armadilhas para lagostim e gamba têm vindo a ser investigadas como alternativa ao arrasto de fundo, pois produzem reduzidos impactos nos habitats marinhos e quase nenhum pescado é rejeitado. Quanto à sobrevivência das rejeições, experiências com espécies não desejadas de peixe e caranguejos pescados com ganchorra mostraram taxas de sobrevivência entre 54% e 81% após 48 horas em cativeiro. No cerco, 20% a 80% da sardinha sobreviveu após a captura e durante um mês em tanques. No arrasto de fundo, apenas estudos com lagostim foram concretizados, com taxas de sobrevivência entre 13% e 60%, mas nenhum sobre espécies rejeitadas. Há três metodologias principais que podem ser usadas na investigação da sobrevivência: estudos de vitalidade; observação em cativeiro; e estudos de marcação-recaptura ou biotelemetria. Escalas de vitalidade e indicadores como tempo-para-mortalidade podem ser aplicados para avaliar a sobrevivência imediata. Apesar de não conseguirem prever mortalidade após rejeição, estes métodos são simples de aplicar e fornecem informação relevante para um elevado número de espécies. A observação em cativeiro consiste na captura de animais selvagens que, antes de serem rejeitados, são transferidos para tanques ou outras instalações e monitorizados durantes dias até semanas. Idealmente, a experiência de sobrevivência deve prolongar-se até a taxa de mortalidade estabilizar. Esta metodologia implica maiores custos e logística quando comparada com a anterior. No entanto, permite estimar de forma mais fiável a taxa de sobrevivência e fazer inferências acerca da sobrevivência a longo-prazo após rejeição. Este trabalho está dividido em duas partes: 1) estudo das susceptibilidades das espécies rejeitadas; 2) experiência de sobrevivência a curto prazo com congro (Conger conger). Ambas foram realizadas a bordo de um arrastão em pesca comercial. No primeiro, foram usados indicadores de sobrevivência imediata para um grupo de 14 espécies: escalas de vitalidade com 4 categorias, desde excelente estado a moribundo; tempo-para-mortalidade, ou tempo até o animal não apresentar qualquer sinal de vida, quando exposto ao ar; e registo de vários tipos de lesões externas, como perda de escamas, arranhões ou feridas expostas. Estes indicadores permitem distinguir espécies com potencial de sobrevivência. Porém, a avaliação da vitalidade necessita de ser adaptada às particularidades de cada espécie, sobretudo a animais de profundidade que possuem estratégias de conservação de energia quando em situações de stress extremo. Foram também identificadas características biológicas que determinam a vulnerabilidade destas espécies: tamanho do animal, bexiga-natatória, escamas e taxa metabólica. Para algumas espécies, o tamanho dos indivíduos representou um factor relevante, pois animais mais pequenos são mais vulneráveis e morrem mais rapidamente do que animais de maiores dimensões. Para além disso, espécies com escamas, bexiga-natatória e taxas metabólicas elevadas também são menos resistentes e têm reduzidas hipóteses de sobreviverem após rejeição. Apenas duas espécies surgiram como candidatas a estudos mais pormenorizados para averiguar o seu potencial de sobrevivência: pata-roxa (Scyliorhinus canicula) e congro ou safio (Conger conger). Assim, na segunda parte deste estudo, 84% dos congros sobreviveram após 65 horas de monitorização. Contudo, esta taxa de sobrevivência está sobrestimada devido a duas problemáticas: a mortalidade não estabilizou no final do período de observações, ou seja, se a experiência tivesse sido mais prolongada, ainda iria registar-se maior mortalidade; e cerca de 70% dos animais apresentaram lesões externas severas, o que coloca sérias questões acerca da sua recuperação e sobrevivência após rejeição. Para estudos futuros, recomenda-se experiências de sobrevivência mais prolongadas, em tanques em terra, de modo a evitar os problemas de espaço e logística que implicam trabalhar num navio. As metodologias escolhidas neste trabalho limitaram as conclusões obtidas, mas ao mesmo tempo implicaram uma estratégia de obter informação nova e importante, com baixo custo, que pode ser usada como ponto de partida para outros projectos. Estes resultados identificaram espécies que poderão sobreviver após a sua rejeição, factores que influenciam a sua sobrevivência e estimativas de mortalidade provocadas pela pesca que são essenciais à gestão e conservação das populações.
Description
Dissertação de mestrado, Aquacultura e Pescas, Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade do Algarve, 2017
Keywords
Rejeições Tempo-para mortalidade e vitalidade Características biológicas Sobrevivência Arrasto de fundo Algarve