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Living with coastal hazards: place attachment and risk perception at Faro beach

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Abstract(s)

Risk perception and place attachment are constructs frequently studied in the context of environmental hazards. Risk perception is a subjective and emotional judgement about the severity of a risk, and it may be influenced by place attachment, the emotional connection between an individual and a specific place. The interplay between these constructs influences how individuals deal with risks. Faro Beach is a vulnerable and heavily urbanized settlement in the Ria Formosa barrier island system, exposed to beach erosion and overwash caused by storms, that have resulted in house and road destruction. However, residents, mainly fishermen and their families, have accepted the risks in exchange for benefits that they perceive as largely exceeding potential personal damages. Although residents are aware of the coastal hazards impacting the area, they do not seem worried or prepared to deal with the associated risks, and they refuse to relocate to safer locations. The main goal of this thesis is to understand the psychological variables, particularly risk perception and place attachment, that influence residents’ perceptions towards coastal risks. Both qualitative and quantitative approaches were used. Content analysis of semi-structured interviews with selected stakeholders allowed the development of self-report questionnaires that were applied to Faro Beach residents. Quantitative data were analysed using descriptive and correlational statistics, and relationships between constructs were tested with partial least squares structural equation modelling. Two psychometric instruments aimed at measuring risk perception and sense of place were also developed and validated. Overall, it was confirmed that Faro Beach residents are aware of the risks they face, most of them have witnessed coastal hazards, but they feel safe living at the beach. A strong emotional attachment to the place, influenced by a long residence time, familial heritage, and social ties, is at the root of residents’ low risk perception and unwillingness to relocate to safer grounds. In addition, an optimism bias and the perception that threats are distant in time prevent the adoption of effective preparedness measures to deal with a potential disaster. Despite some limitations, mainly related to the small samples used, this thesis made significant contributions to environmental psychology and has relevant implications for coastal management. Keywords: place attachment; risk perception; preparedness; coastal risks; coastal management; environmental psychology.
A perceção de risco e o apego ao lugar são construtos frequentemente estudados no contexto das ameaças ambientais. A perceção de risco é um julgamento subjetivo e emocional acerca da severidade de um risco, e pode ser influenciado pelo apego ao lugar, que se define como a ligação emocional entre um indivíduo e um dado local. A interação entre estes construtos influencia a forma como os indivíduos lidam com os riscos. A Praia de Faro é um local vulnerável, fortemente urbanizado, no sistema de ilhas-barreira da Ria Formosa. A praia está exposta a erosão costeira e galgamentos causados por tempestades, que já provocaram a destruição de casas e estradas. Os residentes da Praia de Faro, sobretudo pescadores e as suas famílias, aceitam os riscos que correm em troca dos benefícios que são percebidos como excedendo amplamente potenciais danos pessoais. Apesar dos residentes terem consciência das ameaças costeiras que afetam a zona, não parecem preocupados ou preparados para lidar com os riscos associados, e a maioria dos residentes recusa uma relocalização para zonas mais seguras. A principal objetivo desta tese é, assim, compreender as variáveis psicológicas que influenciam a perceção dos residentes da Praia de Faro relativamente aos riscos costeiros. Primeiramente (capítulo 2) aplicou-se uma análise de conteúdo qualitativa a entrevistas semiestruturadas feitas a residentes da Praia de Faro. Três temas foram extraídos das entrevistas: o que os residentes sentem em relação à praia; como é que percecionam os riscos costeiros; e como lidam com esses riscos. Foram identificados sentimentos positivos associados à praia nos residentes, o que reflete um forte sentido de lugar que inclui níveis elevados de apego ao lugar, enraizamento, sentido de comunidade e identidade ao lugar. A inexistência de consequências mortais ou impactos irreversíveis levam a uma subestimação dos riscos a que estão expostos. A pouca vontade dos residentes em participar em medidas de minimização do risco parece estar associada a barreiras comportamentais influenciadas pela falta de confiança nas autoridades. Os residentes também revelaram baixos níveis de preparação face às ameaças costeiras, provavelmente devido à sua baixa perceção de risco e à perceção das ameaças como distantes no tempo. De seguida (capítulo 3) aplicou-se novamente a análise de conteúdo qualitativa a entrevistas realizadas a cientistas e gestores da costa, de forma a compreender a perceção destes stakeholders relativamente aos residentes da Praia de Faro. Tanto gestores como cientistas reconhecem que os residentes estão bem informados acerca dos riscos, mas acreditam que estes esquecem rapidamente os problemas devido a um viés de otimismo e experiências anteriores “positivas” com riscos, uma vez que nunca houve nenhuma fatalidade ou consequências graves, levando a uma subestimação da gravidade dos riscos. Estes stakeholders consideram que a educação e a informação são as melhores soluções para aumentar a perceção de risco dos residentes. Com base nos resultados qualitativos dos capítulos 2 e 3, o capítulo 4 apresenta uma abordagem quantitativa, com a aplicação de um questionário de autorrelato para avaliar a perceção de risco e variáveis associadas numa amostra de residentes da Praia de Faro. Os resultados mostram que os residentes da Praia de Faro possuem um conhecimento significativo sobre os perigos costeiros que deriva sobretudo da sua experiência de vida. Fontes de informação como campanhas de educação ambiental ou discussões públicas são irrelevantes para os residentes. Os residentes acreditam que as ameaças costeiras não são muito perigosas e são distantes no tempo; consequentemente, a sua preparação para lidar com potenciais riscos é baixa. A perceção de risco dos residentes está relacionada com o tempo de residência na praia, a sua experiência anterior positiva com os riscos, que nunca resultaram em fatalidades, e a distância psicológica em relação às ameaças. No capítulo 5 avaliam-se as relações entre sentido de lugar, perceção de risco e preparação na população da Praia de Faro. Especificamente, formulou-se a hipótese de que o sentido de lugar e a experiência anterior com riscos teriam um efeito negativo na perceção de risco, e a perceção de risco influenciaria positivamente a preparação. Foi aplicado um questionário de autorrelato a uma amostra de residentes da Praia de Faro e os dados foram analisados através de modelos de equações estruturais. Os resultados mostram que a menor perceção de risco está associada à forte ligação emocional ao lugar, pois os residentes tendem a aceitar o risco como parte do seu ambiente. No entanto, a experiência anterior contribuiu para uma maior perceção de risco dos residentes da Praia de Faro, muito provavelmente porque os residentes têm uma experiência direta e pessoal com os perigos, estando assim plenamente conscientes das suas consequências. Além disso, a perceção de risco foi negativamente associada à preparação; embora a sua perceção de risco seja modesta, os residentes fazem ainda assim alguns preparativos para lidar com um potencial desastre. Por fim, pretende-se contribuir para a discussão sobre conceptualização e operacionalização do construto sentido de lugar, através do desenvolvimento de um novo modelo e instrumento psicométrico de autorrelato, apresentado no capítulo 6. Os resultados sugerem que o sentido de lugar é um fator de segunda ordem com quatro fatores de primeira ordem: lugar, pessoas, tempo e self. A dimensão "lugar" integra conteúdo emocional associado ao lugar e pode ser comparada ao apego ao lugar noutros modelos. A dimensão "pessoas" corresponde ao sentido de comunidade, enquanto a dimensão "tempo" reflete a importância do tempo de residência e da transmissão intergeracional no desenvolvimento do sentido de lugar. Finalmente, a dimensão "self" é mais focada internamente do que as outras dimensões, refletindo o papel do lugar para a identidade e autoestima do indivíduo. O novo instrumento possui 32 itens e revelou-se uma medida válida e confiável, tendo por base uma estrutura quadripartida do construto sentido de lugar. Foram identificadas algumas limitações neste trabalho, relacionadas sobretudo com as pequenas amostras usadas. Apesar das limitações, os resultados obtidos representam uma contribuição significativa para a disciplina da psicologia ambiental e têm implicações relevantes para a gestão costeira, uma vez que um conhecimento aprofundado dos determinantes psicológicos e respostas aos riscos costeiros é essencial para uma gestão costeira eficaz.

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Apego ao lugar Perceção de risco Preparação Riscos costeiros Gestão costeira Psicologia ambiental

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