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Abstract(s)
A terapia génica é uma estratégia terapêutica que se caracteriza pela entrega de
material genético a uma célula alvo. A terapia génica tem sido vastamente utilizada no
combate a diversas doenças genéticas e adquiridas, tais como as doenças
cardiovasculares, cancro e doenças oculares, entre outras.
Devido às suas características únicas, como tamanho reduzido, relativo
isolamento da circulação sistémica e fácil acessibilidade a diferentes tipos celulares e
tecidos, o olho é considerado o órgão ideal para o desenvolvimento de estratégias de
terapia génica. A Retinite Pigmentosa e a Retinopatia Diabética são exemplos de
doenças oculares genéticas e adquiridas, respetivamente, que afetam a retina e
conduzem a uma perda irreversível de visão. Apesar da sua etiologia ser diferente,
ambas as patologias partilham o facto de, atualmente, não existir um tratamento
eficaz, o que faz destas bons alvos para terapia génica.
Atualmente, cerca de 80% das estratégias de terapia génica usadas para doenças
oculares são baseadas na utilização de vírus como vetores de entrega do material
genético. Apesar da sua eficácia, esta abordagem acarreta uma série de
desvantagens, principalmente do ponto de vista de segurança a nível imunológico e
mutagénico. Assim, os vetores não-virais aparecem como estratégia alternativa aos
vetores virais, pela sua fácil utilização, ilimitada capacidade de empacotamento de
genes e ausência de resposta imunitária. Porém, a sua aplicação clínica encontra-se
limitada, não só pela sua reduzida eficiência de transfeção como pela expressão
genética transiente conferida pelos, até agora utilizados, sistemas de expressão.
Neste sentido, nas últimas décadas têm sido desenvolvidos sistemas de
expressão baseados em plasmídeos de ADN, que visam uma expressão prolongada,
como os minicírculos, os vetores MIDGE, os pFARs e os plasmídeos epissomais com
capacidade de auto-replicação. Exemplos de plasmídeos com capacidade de autoreplicação
são os pEPI-1 e pEPito. Nestes plasmídeos, a capacidade de autoreplicação
é conferida pela presença de S/MARs (Scaffold/Matrix Attachment Regions) no corpo do plasmídeo. As S/MARs são sequências de ADN ricas em nucleótidos
Adenina (A) e Timina (T) capazes de ancorar a cromatina à matriz nuclear. As S/MARs
parecem estar envolvidas na destabilização e abertura da dupla hélice de ADN,
sugerindo um envolvimento na replicação e expressão do mesmo, uma vez que a
transição de cadeia dupla para cadeia simples é necessária para a replicação e
transcrição genética. Além disso, vetores com S/MARs são capazes de prevenir o
silenciamento epigenético, protegendo o transgene das sequências regulatórias
adjacentes e da heterocromatinização, mantendo o vetor num estado
transcricionalmente ativo e conferindo, assim, estabilidade mitótica. As S/MARs têm,
também, a capacidade de mediar a associação da partícula episomal aos
cromossomas metafásicos, permitindo, assim uma distribuição igualitária dos
epissomas para as células filhas, após a mitose.
O objetivo deste trabalho foi desenvolver uma estratégia de terapia génica nãoviral
para doenças da retina, recorrendo ao uso de sistemas de expressão epissomais
com capacidade de auto-replicação (pEPito) e de um sistema de entrega eficaz
(eletroporação), de modo a conseguir uma expressão prolongada dos genes
terapêuticos. Experimentalmente é possível dividir este trabalho em três secções: i)
identificação de genes com potencial terapêutico em patologias da retina, como RP e
RD; ii) clonagem dos genes em questão em vectores epissomais, pEPito e iii)
administração dos vetores desenvolvidos in vivo, na retina de ratinhos, utilizando
eletroporação como método de entrega dos sistemas de expressão.
Foi recentemente descrito em ratinhos que mutações no gene ATR (Ataxia
telangiectasia and Rad3 related) induzem uma acumulação de pigmento na retina,
com consequente degeneração dos fotorrecetores (bastonetes e cones), semelhante à
que acontece em pacientes com Retinite Pigmentosa. Nos animais Wild-Type esta
proteína está localizada nos cílios dos fotorrecetores. Nos mutantes, a presença da
proteína mutada induz um encurtamento dos cílios, originando uma degeneração dos
bastonetes e, posteriormente, dos cones. Neste contexto, tentámos investigar qual a função desta proteína na formação e alongamento dos cílios retinianos. Os nossos
estudos in vitro demonstraram que esta proteína está associada ao centrossoma das
células ciliadas. Nestas células, o centrossoma é o local onde o cílio se forma e por
onde começa a alongar. A inibição de ATR (pela cafeína) originou uma diminuição da
expressão proteica e, como consequência, verificou-se uma diminuição no
comprimento dos cílios das células tratadas, demonstrando uma relação direta entre a
expressão de ATR e a função ciliar. Assim, podemos inferir que mutações no gene
ATR podem ser responsáveis por alguns dos casos de RP que não estão associados
aos genes normalmente implicados na doença.
A Retinopatia Diabética é uma das principais complicações da Diabetes Mellitus.
É considerada uma doença das barreiras hematorretinianas, na qual a hiperglicemia e
isquémia são as principais responsáveis pelo desequilíbrio entre os fatores pro- e antiangiogénicos
que conduzem à neovascularização e consequente perda de visão.
Neste estudo avaliámos os efeitos da hiperglicemia e isquémia na barreira
hematorretiniana externa, in vitro, em culturas de células do epitélio pigmentar da
retina, sujeitas a glicose elevada e in vivo, no epitélio pigmentar da retina de ratinhos
diabéticos Ins2Akita. Os nossos resultados mostraram um aumento do transportador de
glicose (GLUT1) nos nossos modelos diabéticos. Este aumento está associado, não
só, a um aumento no número de transportadores na membrana das células do epitélio
pigmentar da retina, como também a um aumento da sua atividade, aumentando o
consumo de glicose. Este aumento no consumo de glicose induz uma diminuição na
produção e secreção de factores anti-angiogénicos, como o PEDF (Pigment
Epithelium-Derived Factor) por estas células. Esta diminuição contribui para o
desequilíbrio entre os fatores pro- e anti-angiogénicos, contribuindo assim para o
desenvolvimento da neovascularização.
Baseado nos resultados anteriores, decidimos clonar o gene PEDF no vetor de
expressão pEPito e, através de injeção subretiniana, administrá-lo nas células do
epitélio pigmentar da retina de ratinhos Ins2Akita. Os nossos resultados mostraram que os nossos vetores foram capazes de sobre-expressar PEDF até três meses após a
injeção, em níveis semelhantes aos dos animais controlo (não diabéticos). Esta sobreexpressão
foi associada a uma diminuição de marcadores inflamatórios e
angiogénicos, associados à doença. Estes resultados mostram que a sobre-expressão
de PEDF pode constituir uma nova estratégia para o tratamento da RD.
Os nossos resultados indicam que esta abordagem baseada em sistemas de
expressão com capacidade de auto-replicação e menos susceptíveis ao silenciamento
epigenético, como os pEPito, aliada a um método de entrega de ADN eficaz, como a
eletroporação, pode ultrapassar as limitações associadas à utilização de vetores virais,
conferindo um padrão de expressão génica prolongado e mantendo um elevado perfil
de segurança, consistindo assim numa alternativa eficaz para a terapia génica
retiniana.
Description
Tese de Doutoramento, Ciências Biomédicas, Departamento de Ciências Biomédicas e Medicina, Universidade do Algarve, 2016
Keywords
Terapia génica pEPito S/MARs Retinite pigmentosa Retinopatia diabética