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"Os outros Saxões": imagens da Alemanha na literatura popular eduardiana

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LOPES 1996 THE OTHER SAXONS.pdf921.99 KBAdobe PDF Download

Abstract(s)

Se se quiser determinar os contornos do relacionamento (por vezes fricativo) da Grã-Bretanha com o continente, impõe-se ao estudioso da sua cultura, como uma das tarefas mais prementes, procurar deslindar as raízes de tal desconfiança insular no seio da história contemporânea. A nação alemã tem sido, de todas as potências continentais, não só aquele interlocutor com o qual esse relacionamento se tem revelado o mais polémico, mas também a que mais marcou a experiência e o imaginário do povo britânico desde o início do século. As rêveries de Guilherme II e de Adolf Hitler constituiram, indubitavelmente, a mais dura prova à política externa de Londres e o mais terrível pesadelo para a consciência colectiva. Não deixa, pois, de ser pertinente analisar de que modo a Grã-Bretanha aprendeu a lidar com a constante ameaça alemã ao seu espaço fisico e social. É nesse contexto que ganha sentido um olhar sobre a literatura popular eduardiana enquanto instrumento ideológico privilegiado para a diwlgação e consolidação das representações do poder (e do não-poder) junto das massas. Na realidade, vários foram os escritores, mormente os de ficção, que procuraram alertar o leitor quanto ao perigo para a supremacia britânica advindo da constante pressão política, militar e económica exercida pelo crescente imperio alemão. Isso tornou-se particularmente visível em subgéneros que, de uma forma mais ou menos explícita, espelhavam as tensões políticas do momento: o spy thriller, cuja acção tinha lugar nos bastidores da política internacional e à margem dos grandes centros de decisão (aqui representado pelo texto seminal de Erskine Childers, The Riddle of the Sands [1903] e, ainda, por The Thirty-nine Steps [1915] de John Buchan); a invasion novel, onde o próprio territorio nacional era tornado vítima da voragem alienígena (The Invasion of England [1906] de William Le Queux e The War in the Air [1908] de H. G. Wells); e a occupation novel, onde se imaginavam cenários de uma vivência a meias com o inimigo opressor (e o caso da singular narrativa de Saki, When William Came [1913]). Também a adventure novel, apesar de a alimentar uma postura muito mais agressiva face ao “outro”, possui imanentes um quadro de valores e um conjunto de representações do alemão que não podem ser de todo relegados para segundo plano. Os dois textos de Anthony Hope - The Prisioner of Zenda e Rupert of Hentzau - são disso casos significativos. Uma vez que foram escritos um pouco antes das crises internacionais que grassaram ao longo da primeira década do século (em 1894 e 1898, respectivamente), apresentam em termos gerais a figura do alemão a uma luz algo mais favorável do que a dos textos produzidos posteriormente. A sua inclusão no corpus justifica-se porquanto lhes está subjacente um desejo de identificação, senão mesmo de fusão, com o povo alemão que não mais se manifestaria na literatura popular ulterior. As narrativas de Hope encontram-se informadas, ainda que subliminarmente, da busca de uma ancestralidade comum a ambos os povos, de uma consanguinidade que os tornaria, inconscientemente embora, cúmplices na conquista do poder na Europa e no mundo.

Description

Dissertação mest., Estudos Ingleses, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, 1996

Keywords

Literatura inglesa Ideologia Literatura popular Período eduardiano Representações Alemanha Grande Guerra

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