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De onde vem a ideia tão difundida e tão resistente do «não racismo» dos
portugueses? Poderá ela desempenhar o papel de uma «profecia criadora», imunizando,
de algum modo, os portugueses relativamente às formas mais virulentas e violentas de
racismo? Para responder a estas questões é necessário interrogar a história recente do
país, nomeadamente, uma parte da sua história colonial.
É na sequência dos múltiplos ataques internacionais à situação colonial que,
durante os anos cinquenta e sessenta do Século XX, a doutrina lusotropicalista de
Gilberto Freyre vai ser politicamente apropriada pelo Estado Novo. Tornou-se
necessário, naquela época, convencer o mundo e os portugueses da ausência de racismo
na «essência» do ser português, bem como da «harmonia» racial vivida nas colónias. O
«não-racismo» dos portugueses tornou-se não apenas uma característica da ideologia do
Estado como assumiu dimensões míticas. Transformou-se num mito fundador, numa
cosmogonia da expansão portuguesa no mundo. O mito nacional do «não-racismo»,
tendo sido historicamente construído pelas elites políticas com finalidades muito
pragmáticas constitui hoje uma autêntica «hipocrisia criadora» que contribuiu para
modelar o racismo contemporâneo dos portugueses.
Através de uma espécie de «efeito perverso», tendo querido justificar e prolongar
a situação colonial (logo, uma forma de racismo), o Estado Novo inoculou nos
portugueses através da escola e dos aparelhos estatais, uma espécie de vacina que, por
um lado, tem contido as manifestações mais virulentas do racismo diferencialista contra
as populações de origem africana e, por outro lado, tem impedido, em Portugal, a
passagem do racismo para o campo do político.
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Keywords
Colonialismo Estado novo Racismo Lusotropicalismo Portugal
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Faculdade de Economia da Universidade do Algarve