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A leitura paralela de Maria Judite de Carvalho e José Gomes Ferreira permite-nos pensar a crónica como forma privilegiada de dizer a cidade contemporânea mediante uma lucidez irónica e uma aguda consciência histórica. José Gomes Ferreira nunca esconde o grotesco e a desolação do mundo dos outros mas dá a ver o que existe de irreal, de sonho no quotidiano e ironiza a sua posição (melancólica) de poeta militante. Maria Judite de Carvalho, por seu turno, vive uma dolorosa contiguidade com as ruas e rostos que se entregam à indiferença, ao consumo e à alienação. E, no entanto, esta verdade como um punho revela-se através de uma ironia fina e ácida que denuncia as injustiças e os lugares comuns dos discursos e dos gestos. Em ambos os casos, de modos diversos, a crónica trabalha as nuances próprias da ironia, contra a evidência do banal, do esquecimento e da morte.
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Crónica Cidade Ironia Maria Judite de Carvalho José Gomes Ferreira