Loading...
5 results
Search Results
Now showing 1 - 5 of 5
- Racismo na sociedade portuguesa contemporânea: «flagrante» ou «subtil»?Publication . Marques, João FilipeNos últimos trinta anos, a sociedade portuguesa sofreu profundas transformações. Entre muitas outras, destaca-se o facto de se ter tornado na sociedade de acolhimento para muitos imigrantes que transportam consigo as suas características culturais e identitárias, bem como os seus traços fenotípicos. Nas relações entre os portugueses e as colectividades históricas presentes no território, o racismo nem sempre está ausente. Esta comunicação procura precisamente fornecer algumas pistas para a compreensão dos fenómenos de carácter racista que são actualmente observáveis na sociedade portuguesa. A metodologia desta pesquisa utilizou as entrevistas não-directivas ou semi-directivas aos actores sociais que, duma forma ou de outra estavam mais próximos do racismo “vivido” em Portugal. As conclusões que aqui são apresentadas resultam portanto da análise de um conjunto de entrevistas feitas a dirigentes das principais associações de imigrantes, das associações ciganas, das ONGs de combate ao racismo e de defesa dos direitos humanos, aos representantes das principais uniões sindicais, aos responsáveis políticos pela integração dos imigrantes e das minorias étnicas e a cidadãos anónimos nacionais e estrangeiros. Uma das mais importantes pesquisas empíricas inteiramente consagradas ao racismo na sociedade portuguesa contemporânea teve como quadro teórico de base o modelo psicosociológico de Petigrew e Meertens que introduz a distinção entre “racismo flagrante” e “racismo subtil”. Trata-se da investigação levada a cabo por Jorge Vala e pelos seus colaboradores.[2] O modelo utilizado pela pesquisa mencionada parte da hipótese segundo a qual o pensamento do senso comum teria acompanhado as mutações observadas nos domínios científico e político e teria substituído as explicações biológicas do comportamento pelas explicações culturais. Uma das expressões desses “novo racismo” seria precisamente o deslocamento do tema das hierarquias raciais para o tema da absolutização das diferenças culturais, aparecendo este último sob a forma “velada” ou “subtil”. Segundo as conclusões da investigação referida, os preconceitos racistas dos “portugueses relativamente aos negros” obedecem aos mesmos esquemas encontrados noutras sociedades “formalmente anti-racistas”. Isto é, a forma mais explicita e biologizante do racismo, o “racismo flagrante” teria sido substituída, em Portugal, por um “racismo subtil”, mais normativo e de contornos culturalistas. Ora a pesquisa que aqui apresentamos obriga-nos a relativizar o alcance destes enunciados, ao demonstrar que há muito pouco de “subtil” em muitas manifestações de racismo que são observáveis na sociedade portuguesa. A própria insistência científica no paradigma do “racismo subtil” tem como “efeito perverso” a ocultação das manifestações mais “flagrantes” do fenómeno. O sociólogo pode com toda a legitimidade interrogar-se sobre o sentido da evacuação das características societais e históricas na produção e reprodução dos preconceitos raciais e do racismo. Não se trata de afirmar que as atitudes de racismo subtil, tal como elas são medidas pelos psicólogos sociais, não existam, trata-se de defender que estas não substituíram completamente os comportamentos de “racismo flagrante”. Por um lado, os ciganos são actualmente alvos de um racismo “flagrante” de características “diferencialistas” que se concretiza na sua violenta rejeição e afastamento. São a segregação e o desejo de expulsão desta comunidade que são preponderantes. Por outro lado, os imigrantes e os seus descendentes são sobretudo alvo de um racismo “desigualitário”, claramente urbano, mas em todo caso subsidiário dos preconceitos biologizantes herdados do passado colonial. Neste caso, são a inferiorização e a discriminação em múltiplos domínios da vida social, eventualmente também a violência verbal, que constituem as principais manifestações desta forma de racismo
- Les "logiques" du racisme dans la société portugaise contemporainePublication . Marques, João FilipeLe Portugal ne semble pas être une exception en matiére d'attitudes et de comportements racistes, observables dans la plupart des pays d'Europe.
- A Europa e os novos racismos; algumas reflexõesPublication . Marques, João FilipeNum primeiro momento, pretende-se dar conta das características do racismo emergente nos meios «populares» que é observável em grande parte dos países europeus. Na emergência deste «racismo popular» encontramos duas fontes principais. Uma fonte propriamente «social» que se prende com questões de concorrência económica, com problemas de desestabilização estatutária ou com o receio da exclusão, na qual o racismo se manifesta através da transferência das dificuldades do grupo maioritário para a presença dos grupos minoritários, e uma fonte essencialmente «identitária» ou etno-cultural, na qual a tónica é colocada na defesa ou promoção de uma identidade étnica, nacional - ou mesmo regional - concebidas em termos essencialistas ou mesmo raciais. Num segundo momento ensaia-se um conjunto de reflexões de amplitude macro-sociológica em torno das condições societais que, actualmente, na Europa, constituem condições favoráveis ao alargamento do espaço dos neo-racismos Europeus. São três os conjuntos de factores gerais que, influenciando-se reciprocamente, contribuem para a manutenção e escalada do fenómeno. O primeiro conjunto prende-se com questões de ordem social, com mutações na estrutura das sociedades, no sistema de estratificação e nas dinâmicas da mobilidade que, por um lado, originam precisamente o racismo dos «pequenos brancos» e, por outro, impelem as classes médias para condutas de distanciamento e segregação relativamente às minorias étnicas com origem na imigração. O segundo conjunto remete para a acção política, nomeadamente para o modo como o Estado responde às questões da igualdade, da redistribuição, da justiça, da inserção das colectividades imigrantes, da educação, da habitação social etc. É também dentro deste conjunto que se enquadram as reacções do campo do político, no sentido alargado: as críticas das forças de cariz populista, por um lado, e neo-liberais, por outro, aos desempenhos do Estado-providência. O terceiro conjunto de factores favoráveis à emergência ou amplificação das condutas racistas na Europa prende-se com as questões identitárias e, em particular, com as problemáticas da identidade e da soberania nacional.
- A Europa e os novos racismos; algumas reflexõesPublication . Marques, João FilipeNum primeiro momento, pretende-se dar conta das características do racismo emergente nos meios «populares» que é observável em grande parte dos países europeus. Na emergência deste «racismo popular» encontramos duas fontes principais. Uma fonte propriamente «social» que se prende com questões de concorrência económica, com problemas de desestabilização estatutária ou com o receio da exclusão, na qual o racismo se manifesta através da transferência das dificuldades do grupo maioritário para a presença dos grupos minoritários, e uma fonte essencialmente «identitária» ou etnocultural, na qual a tónica é colocada na defesa ou promoção de uma identidade étnica, nacional - ou mesmo regional - concebidas em termos essencialistas ou mesmo raciais.
- Do «não racismo» português aos dois racismos dos portuguesesPublication . Marques, João FilipePortugal - independentemente daquilo que pensam os portugueses - não constitui uma excepção no que diz respeito às atitudes e comportamentos racistas que se verificam noutros países da Europa. Há um conjunto de questões em torno deste problema que merecem ser formuladas: a que "lógicas" obedece o racismo na sociedade portuguesa? Quais são as suas fontes actuais e históricas? Quais são as transformações sociais que favorecem a emergência deste tipo de atitudes e comportamentos? As principais vítimas do racismo em Portugal são, inegavelmente, os imigrantes de origem africana e os seus descendentes e as pequenas comunidades ciganas. Mas estas duas colectividades não são vítimas do mesmo tipo de racismo. A abordagem tipológica utilizada na pesquisa que é apresentada neste tese pode, efectivamente, distinguir os dois tipos ideais de racismo que existem na sociedade portuguesa. O racismo que vitima os imigrantes e os seus descendentes obedece claramente à lógica «desigualitária» cujas fontes podem ser encontradas no passado colonial do país e nas ideologias e preconceitos herdados desse mesmo passado. Os imigrantes e os seus descendentes possuem efectivamente um lugar na sociedade; não são excluídos da esfera produtiva ou da vida económica mas são sistematicamente inferiorizados e relegados para situações de invisibilidade social. No que diz respeito aos ciganos a situação é completamente diferente. Eles são actualmente vítimas de uma lógica de racização «diferencialista» ou de «exclusão». Não lhes é concedido nenhum lugar na sociedade, nenhuma função económica, nenhum espaço de interacção. Quer ao nível das práticas quotidianas, quer ao nível dos acontecimentos excepcionais e violentos com carácter racista, a colectividade cigana é percebida enquanto incompatível, inassimilável e indesejável à sociedade portuguesa. As fontes desta rejeição diferencialista parecem poder ser encontradas, simultaneamente, na dissolução dos modos de vida típicos desta colectividade e nas transformações recentemente sofridas pela sociedade portuguesa.