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  • Notas de leitura
    Publication . Valagão, Maria Manuel; Vasco, Célio; Gomes, Bertílio
    Algarve Mediterrânico: Tradição, Produtos e Cozinhas é um livro sobre o património alimentar algarvio (nas vertentes de paisagem, produção e culinária) e a sua inovação. Três profissionais com créditos firmados percorreram o território durante cerca de quatro anos, recolheram testemunhos e recriam a história e paisagem alimentar algarvias: uma investigadora da tradição alimentar, Maria Manuel Valagão, um cozinheiro, Bertílio Gomes, e um fotógrafo, Vasco Célio. O livro resulta de um trabalho de investigação de Maria Manuel Valagão sobre a identidade e diversidade da cozinha algarvia (daí a conjugação plural no título do livro) e a relação com os recursos disponíveis, a cultura e os saberes ancestrais. Sempre numa perspetiva de olhar para o futuro, de salvaguarda e sustentabilidade. O trabalho fotográfico de Vasco Célio aborda a paisagem, os produtos, as práticas culinárias, as pessoas e os gestos, acompanhando de uma forma autoral a escrita do livro. Bertílio Gomes é chamado a experimentar e recriar os sabores, inovando o receituário tradicional. A partir de áreas profissionais distintas, os três autores arreigam-se afetivamente no território algarvio, algo que faz ecoar as empresas monográficas dos grandes etnógrafos do século XIX. Algarve Mediterrânico: Tradição, Produtos e Cozinhas é um trabalho ditado pelo rigor científico e apuro estético. O facto de conviver, em lugar de destaque, nos escaparates das livrarias com outras obras sobre gastronomia e culturas alimentares, tendo inclusivamente uma versão traduzida em inglês, dir-nos-á algo sobre o público que almeja e que não é apenas o especializado mas sim o público em geral, incluindo o estrangeiro.
  • Novos apontamentos para o estudo da talha em Minas Gerais, a partir do mapeamento da oficina do entalhador lisboeta José Coelho de Noronha
    Publication . Pedrosa, Aziz José de Oliveira
    Sabe-se que a caudalosa produção artística ocorrida em Minas, durante o século XVIII, aflorou no momento em que as vilas e arraiais erguiam seus templos religiosos. Tais obras foram possíveis por intermédio do patrocínio das poderosas irmandades, que detinham grandes riquezas e se empenhavam em erguer igrejas e capelas. A arquitetura desses templos religiosos é destaque na paisagem das cidades onde se encontram, mas foi em seus interiores que a arte se fez intensamente presente por meio, principalmente, da pintura e da talha dourada. Esta última foi utilizada como elemento de composição ornamental e, sobretudo, como veículo de divulgação dos preceitos católicos contrarreformistas, delimitados pelo Concílio de Trento (1545-1563) e que em Minas foram amplamente divulgados. São muitas as considerações que se pode fazer sobre esse fértil ciclo de produção artística, contudo, tem como finalidade este texto analisar algumas questões referentes às oficinas que estiveram a serviço da produção da talha na Capitania de Minas, no correr do século XVIII. Visto preexistirem alguns vazios a respeito do assunto, frutos da estagnação de pesquisas em arquivos históricos que impossibilitam germinar novas discussões sobre a produção da arte local.
  • Mutações no espaço rural: estudo de caso - a aldeia do Azinhal
    Publication . Pedro, Maria José
    O trabalho aqui apresentado foi elaborado a partir da tese de mestrado em História do Algarve, defendida na Universidade do Algarve em Abril de 2011, que abordou o tema das mutações no espaço rural, através de um estudo de caso na freguesia do Azinhal pertencente ao concelho de Castro Marim, situada no Algarve Oriental, na área de influência do rio Guadiana. Pretende-se fazer uma reflexão sobre a problemática da desruralização. Desde os anos 60 do século XX que a região do Algarve tem visto transformar as suas paisagens e o modo de vida dos seus habitantes, pressionada por uma forte indústria turística. A descaracterização da paisagem, o abandono das terras, a destruição de uma identidade e de todo um património, levam-nos necessariamente a uma reflexão sobre as mutações a que temos vindo a assistir nas áreas rurais, procurando identificar as dinâmicas existentes nesse espaço em transformação e, a partir daí (re)equacionar as diferentes variáveis com influência no desenvolvimento destes lugares. Num tempo de mudança, novas configurações económicas, culturais e sociais serão encontradas, utilizando forças endógenas e exógenas. A complexidade dos vários fatores que intervêm tem vindo a aumentar, e as opções tomadas e/ou a tomar podem vir a comprometer irremediavelmente o futuro da região.
  • Uma leitura da arquitetura tradicional da região do Algarve do espaço urbano ao espaço rural: os repertórios dos ornatos em relevo e dos trabalhos em massa
    Publication . Santos, Marta; Costa, Miguel Reimão; Pernão, João; Aguiar, José
    O revestimento de fachadas com ornamentação em relevo marcou uma nova estética na apresentação da arquitetura doméstica da região do Algarve, entre o último quartel do século XIX e as primeiras décadas do século XX. A diversidade e originalidade iconográfica das técnicas ornamentais identificadas neste estudo, ainda em curso, com incidência em contexto urbano e rural, revelam a erudição da manufactura das técnicas de execução e de modelação da ornamentação e estabelecem paralelos aos repertórios divulgados em manuais da época. Alguns acontecimentos urbanos enquadraram a ampla utilização desta arte ornamental, que se intensificou e se expandiu pelas periferias urbanas e povoamentos rurais, em momentos particulares. A observação da ornamentação nos vários exemplares arquitetónicos ainda existentes na região do Algarve, bem como a leitura dos seus repertórios ornamentais, tem permitido o exercício de mapeamento de eventuais fontes de inspiração ou de influência entre encomendantes e executantes. A identificação sistemática destes repertórios tem permitido a interpretação da ornamentação da arquitectura doméstica desta região à luz das motivações emergentes à época assim como da chegada de fontes externas à região. A partir da análise das relações entre os contextos urbano, periurbano e rural tem sido possível estabelecer percursos e influências preferenciais, configurando-se como fontes e veículos de transmissão e comportando a transferência de tecnologias e iconografias que circulavam em forma de estampas ou em manuais de formação do ofício.
  • História, paisagem e arquitetura: a antiga vila de Cacela no contexto do Algarve Oriental
    Publication . Batista, Desidério; Costa, Miguel Reimão
    O processo histórico de construção e transformação da paisagem no Baixo Algarve apoiou-se num modelo de ocupação e organização territorial que põe em evidência a utilização simultânea, pelas comunidades humanas, dos espaços marinhos e terrestres. A paisagem histórica de Cacela resultado do trabalho de civilizações, povos e gerações é, em meados do século XX, um testemunho vivo e claro deste paradigma baseado no acerto entre as circunstâncias do meio e a sua humanização. No contexto da orla litoral do Algarve oriental, a antiga vila de Cacela constitui, ainda hoje, um pequeno aglomerado de notável originalidade, especial significado e forte simbologia, integrado numa paisagem que se considera, ainda, ecologicamente equilibrada, com acentuada diversidade biológica e cujo conteúdo estético é de inegável valor cultural, embora cada vez mais ameaçada por padrões de uso considerados insustentáveis. O núcleo histórico de Cacela, integrado no Parque Natural da Ria Formosa, detém o estatuto de património classificado (Imóvel de Interesse Público). A presente investigação compreende a antiga vila e o território envolvente, comportando uma abordagem abrangente e integradora dos temas mais relevantes da arquitetura vernacular e da organização da paisagem tradicional agro-marinha. O objeto de investigação reúne, por um lado, qualidades e potencialidades que justificam o estudo de âmbito interdisciplinar que se propõe e, por outro lado, necessita atualmente de intervenções que visam a sua recuperação, salvaguarda e valorização, e relativamente às quais é fundamental o conhecimento das suas componentes arquitetónica e paisagística, considerando a relação da organização espacial do conjunto edificado com o seu hinterland.
  • A Tecelagem tradicional e a produção de fibras têxteis no Algarve rural
    Publication . Pereira, Selma
    Os têxteis tradicionais algarvios não têm atualmente uma grande visibilidade. Porém, estas tradições têxteis provêm de tempos muito antigos e contêm características muito próprias que as distinguem das demais: o cultivo e a produção de fibras têxteis, a tecnologia empregue, as técnicas utilizadas, as formas de ornamentar as peças e as suas finalidades. A tecelagem tradicional de linho, lã e trapos do Algarve continua a seguir os mesmos processos e técnicas com que se tecia há séculos no Al-Andaluz. Apesar disso é uma área ainda pouco discutida e investigada. Em 1864 foram recenseados 83 teares, em atividade, na Serra de Monchique. Atualmente só resta uma tecedeira ativa no concelho: D. Maria Nunes, nascida em 1934, que continua a trabalhar o linho seguindo os trâmites tradicionais do ciclo do linho, desde a plantação à venda de peças em feiras da região.
  • A produção de cal no Algarve: Identidade e gestão do território
    Publication . Martins, Susana Calado
    Este texto dedicado à produção artesanal de cal no Algarve resulta, em grande parte, da investigação desenvolvida no âmbito da dissertação de mestrado em História do Algarve, mas também de um continuado interesse que tem motivado a realização de pesquisas e de novos olhares sobre o tema. Esta actividade económica já se encontrou entre os ofícios mais importantes da região algarvia. Apesar de se tratar de uma actividade sazonal, assumiu uma grande preponderância nos meios rurais, contribuindo para definir boa parte da identidade e imagem do território. Todavia, e apesar da sua pertinência, este tema do património cultural algarvio esteve durante muito tempo caído no esquecimento. Até há poucos anos havia sido referido ocasionalmente por alguns autores, sobretudo em obras de carácter geral referentes a outros temas, ou em monografias locais, sem contudo ser alvo de um olhar aprofundado. Porém, nos últimos anos a tendência pareceu inverter-se um pouco em diferentes contextos e o tema tem vindo a recolher um progressivo interesse, tanto no âmbito académico, onde começaram a surgir alguns trabalhos que o abordam de modo mais consistente, como no que respeita a determinadas acções realizadas em contexto de divulgação cultural e educação patrimonial ou, até mesmo, no turismo cultural. Iniciativas estas às quais o público, especializado e não especializado, parece ter vindo a corresponder com igual interesse.
  • O sobreiro e a cortiça: identidade, cultura e biodiversidade Equilíbrio ancestral entre o homem e a natureza
    Publication . Carrusca, Sofia
    O sobreiro (quercus suber L.) é uma quercínea, pertencente à família Fagaceae e encontra-se disseminada, de forma espontânea, por países de clima mediterrânico, estendendo-se da Península Ibérica ao sul de França, Itália e Norte de África (Marrocos, Argélia e Tunísia). Esta árvore apresenta uma longevidade que pode atingir os 300 ou mais anos e é bastante valiosa, devido à extração da sua casca, a cortiça, um produto natural de grande importância na indústria dos vedantes, isolamentos e outras novas aplicações, como o vestuário e os acessórios. As florestas de sobreiros constituem um ecossistema muito particular e de delicado equilíbrio. Portugal é o país que se orgulha de possuir a maior extensão de sobreiros do mundo, concentrando aproximadamente 34% da área mundial destas florestas, correspondente a uma superfície de 736 mil hectares e de 23% da floresta nacional (Apcor, s.d.). Neste contexto, o sobreiral algarvio define um vasto ecossistema, bastante rico em fauna e flora, constituindo uma zona abrigada e de dinâmica favorável ao desenvolvimento de um sem número de espécies. Os modelos de ocupação do solo que se designam por “montado de sobro” e por “sobreiral” são distintos. O “montado” é um sistema agro-silvo-pastoril, constituído por um sistema agro-florestal aberto, definido por uma baixa densidade de árvores, no qual o sub-bosque original foi substituído por pastagens permanentes ou culturas agrícolas em regime de rotação. Corresponde a latifúndios com monoculturas e pastoreio do gado em regime extensivo, que se encontram localizados essencialmente no Alentejo e na Estremadura espanhola.
  • A arquitetura de produção a partir do reaproveitamento da água de nascente na grande propriedade do Barrocal algarvio
    Publication . Barão, Marco
    A noção de sítio rural com valor patrimonial foi consagrada internacionalmente no princípio da década de sessenta através da Carta de Veneza publicada em 19641. Deste documento emanaram legislações nacionais que, dentro do espírito da carta, colocavam o enfoque na figura do monumento. Ainda assim, o conceito de monumento passou a abranger “[...] não só as criações arquitetónicas isoladamente, mas também os sítios, urbanos ou rurais, nos quais sejam patentes os testemunhos de uma civilização particular, de uma fase significativa da evolução ou do progresso, ou algum acontecimento histórico.”2 A forma de entender o património evoluiu e os bens patrimoniais em meio rural passaram a ser reconhecidos e interpretados de forma integrada com a paisagem que lhes serve de suporte e com os conhecimentos que as populações detêm. O meio rural integra simultaneamente expressões materiais e imateriais no âmbito do património cultural edificado, natural e paisagístico. Partindo do conceito de património rural e encarando-o como elemento fundamental do desenvolvimento sustentável do território, pretende-se com o presente artigo dar a conhecer uma expressão particular do património rural algarvio, associado à gestão de água em meio rural.
  • Água, Hortas e Identidade no Barrocal Algarvio. Saberes ancestrais, problemáticas actuais
    Publication . Tomé, Sónia
    O renovado interesse em possuir uma horta destinada ao auto-consumo, ou sugerir a alguém o cultivo de hortícolas em espaço próprio, reflecte, directamente, alguns dos problemas mais agudos das sociedades actuais, com tendência a agravarem-se num futuro próximo, como crises económicas, necessidades e desperdícios alimentares, segurança alimentar e saúde pública. Indirectamente, a poluição das águas e dos solos, alterações climáticas globais, etc. Neste contexto, em Portugal, na Europa e noutras partes do Mundo vão surgindo “Hortas Sociais”, “Hortas Comunitárias”, “Hortas Pedagógicas”… e muitas outras iniciativas alusivas à horta, tais como Mercadinhos, Feiras e Cabazes, Oficinas e Workshops, Rotas ou Passeios Pedestres. No entanto, antes deste renovado interesse pelas hortas à escala nacional e supranacional, estimulado pelas referidas problemáticas da sociedade actual, há muito que as gentes do Barrocal Algarvio, reconhecem e valorizam a sua importância, embora os motivos para a cultivar tenham variado ao longo dos tempos (Tomé, 2008). Foi a forte identificação das gentes à horta e ao modo de vida rural, que fizeram com que a sua prática fosse mantida até à actualidade, ainda que em menor escala.